24 hour party people
As minhas colegas são umas chatas, não gostam de festas. Pelo menos não das que eu lhes faço no rabo quando passo por elas.
As minhas colegas são umas chatas, não gostam de festas. Pelo menos não das que eu lhes faço no rabo quando passo por elas.
Afinal parece que a tabela periódica não é um calendário onde estão assinalados os dias em que as senhoras têm oscilações de humor mais acentuadas que o costume. Infelizmente descobri isto tarde demais.
Coloquei a música "Beaucoups of Blues" como meu toque de telemóvel. Pareceu-me mais coerente que tivesse um Ringo tone.
Quando fazíamos viagens de estudo - daquelas a Coimbra, Santarém ou Almourol, em que estávamos mais interessados em parar em todos os cafés e tascas que encontrávamos pelo caminho para beber imperiais do que em visitar locais históricos - tínhamos o espectacular hábito de cantar, em alto e bom som, coisas como "senhor condutor, ponha o pé no acelarador, se chocarmos não faz mal, vamos todos pró hospital".
Afinal parece que o processo de enriquecimento do urânio não consiste em comprar-lhe uma cautela e fazer figas para que saia pelo menos a terminação.
Num mundo perfeito todos teríamos uma banda sonora que nos ilustrasse a vida. A música "Forever Blue", por exemplo, seria dos Estrunfes, "Well Worn Hand" musicaria a minha adolescência e "Whole Lotta Love" seria a da Sandra, a minha colega do oitavo ano que tinha muito amor para dar. Pintava as unhas e os beiços durante as aulas de Francês, o que lhe valia raspanetes da professora, que lhe dizia que era muito nova para aquilo, e era uma das que andava com um dos bad boys lá do liceu. Nos intervalos fumava cigarros que cravava no pátio e o Joni, que era drogado e uma vez, por causa da moca, caiu dois lances de escadas enquanto tentava deslizar, sentado, corrimão abaixo, disse que ela ia para as traseiras da escola curtir com os do décimo, que era assim como jogar ao bate-pé mas sem bater o pé, o que era um conceito espectacular, pois eliminava-se a parte estúpida do jogo e ficava-se só com a fixe. Eu jogava ao bate-pé no último piso, junto à sala H, onde tínhamos Trabalhos Manuais, mas ainda não dominava aquilo de não bater com os meus dentes nos delas e a Mafalda nunca deixava que lhe apalpássemos o rabo, mas a Sandra nunca ia connosco e as traseiras eram só para o pessoal cool. O Joni também dizia que ela dava linguados tais que até lhe chegava às amígdalas. Ao princípio pensei que ele estivesse a exagerar, como daquela vez que disse que fazia tráfico de droga nas meias, mas um dia vi-a a tocar na ponta do nariz com a língua e fiquei na dúvida se seria mesmo verdade. A Joana, que era quequinha porque o pai era doutor, disse-me que uma vez a Sandra tinha ido para a arrecadação do ginásio, onde guardavam os colchões de Educação Física, com o Crostas e com o Cascas e que tinham pinado. Eu fiz que sim com a cabeça porque não sabia o que era pinar, mas depois de me explicarem não acreditei porque os colchões só cheiravam a bafio. Depois do ano lectivo acabar não a voltei a ver na escola, mas ouvi dizer que a mãe dela era prostituta e que ela também. Um dia encontrei-a a comprar tabaco no café mas não tive coragem de lhe perguntar e limitei-me murmurar "'Tão?" e a acenar com a cabeça quando passei por ela.
Confesso que, até há algum tempo atrás, gostava de me armar em intelectual. Sempre que saía à noite vestia um casaco de bombazine com remendos nos cotovelos e levava a minha edição de bolso já gasta, apesar de nunca ter lido mais que duas páginas, d'Os Irmãos Karamazov que deixava, como quem não quer a coisa, ao meu lado em cima da mesa. E para sustentar essa pretensão visitava, também, exposições na Gulbenkian, para depois as referenciar em conversas, com uma casualidade cuidadosamente planeada, enquanto dava umas passas num cachimbo e ajeitava os meus óculos de largos aros pretos.
A vida é um processo contínuo de aprendizagem - é bonito e fica bem dizer isto nas entrevistas de emprego. No entanto, confesso, estava longe de imaginar o que iria aprender quando me lembrei de escrever o seguinte:
Antes de começarem a ler o próximo parágrafo vejam esta carta e memorizem-na. Mas não me digam qual é! Já está? Ok, continuemos, então.
"Estás bem?", perguntou-me, a meio do nosso passeio pelo Jardim Zoológico, ao ver-me hirto e de olhar vidrado observando as marmotas. Mas eu não estava.
Acho que podemos concordar que nós, enquanto sociedade, ultrapassámos a barreira da sanidade há já algum tempo. E não me estou a referir àquele dia em que acordámos e, de repente, exclamámos colectivamente, à laia de "Oh, fuck!", "Meu Deus, o Santana Lopes é Primeiro Ministro!" Não, estou a referir-me ao facto de, em determinado ponto no tempo, alguém ter achado que o que fazia falta era manequins de mamilos túrgidos espalhados pelas montras desse país fora.
As minhas competências românticas ainda se mantêm num nível infantil. Não porque goste de meninas de oito anos mas porque nessa altura a forma que tinha de lidar com os meus sentimentos para com elas era passando rasteiras, puxando cabelos ou dando caneladas. E, aparentemente, de então até hoje evoluí apenas na gravidade dos danos infligidos.
Muita gente me aborda na rua questionando a minha capacidade de contar até cinco em alemão. E, invariavelmente, satisfaço a curiosidade alheia recitando os algarismos de forma gutural e exaltada enquanto projecto perdigotos na direcção do meu interlocutor: "Ein, zwei, drei, vier, fünf."
Eu tenho tantos pelos no peito e nas costas que quando vou à praia as pessoas interrogam-se porque razão anda a passear-se à beira mar um indivíduo de sunga e colete de caxemira.
Primeiro andava tudo em pânico com medo que o mundo acabasse na passagem de 1999 para 2000 e não sei que desgraças mais. Até havia um bug do piorio, daqueles peludos que deixam gosma, que ia destruir a civilização tal como a conhecíamos e enviar-nos de volta para a idade da pedra. Não me lembro muito bem do que fiz nessa passagem de ano, mas tenho quase a certeza que não estava a enfrentar o Armagedão.
Cara senhora com quem falei ontem ao fim da tarde: alourar o buço funciona, sim senhora, mas só se o mesmo não for mais farfalhudo que o bigode do Luís Pereira de Sousa. E quando se põe tanta base na cara que as faces das pessoas que beija ficam coladas à sua, isso talvez seja sinal que deveria ser mais moderada. Digo eu.
Hoje fiz-me um homem.
Para alguém que, como eu, atingiu a puberdade ali no final dos anos 80, quando a internet era ainda uma miragem e as empregadas dos clubes de vídeo do bairro conheciam as nossas mães, impedindo-nos de fingir que o nosso buço tinha dezoito anos para alugar "Ginger Lynn, O Filme", as películas com a Kathleen Turner eram o mais parecido com pornografia que se arranjava. Isso e os filmes franceses que passavam na RTP2, porque se há coisa que as artistas francesas sempre gostaram de fazer foi arejar a epiderme. "Biã súr que é arte, mon amur. Mas mãetenon retirê la chemise, uí?"
"Uí?..."
O corpo esguio, o olhar sedutor e a voz rouca e sexy, que lhe valeu o papel de Jessica Rabbit, faziam parte da sua imagem de marca e obras como "Body Heat" ou "As Noites de China Blue" eram para ser vistas à noite e sozinhos, de forma a evitar ter de explicar aos nossos pais os olhos esbugalhados e as duas almofadas no colo."Je suí tré contã détrici avéc tuá."
Foi por isso com agrado e alguma nostalgia que recebi a notícia de que a Kathleen fazia agora parte do elenco da série "Californication" - que, para quem não sabe, e apesar de ser algo de completamente secundário, até tem algum diálogo e enredo por entre a miríade de seios firmes que semanalmente se esfregam no David Duchovny.Pedir ao Schrödinger para tomar conta do vosso gato é como pedir a um gordo para olhar pela vossa bola de berlim. A diferença é que o gordo fica com a boca cheia de açúcar.
Confesso que doeu quando a Elsa me deixou. Mas nada que eu pudesse dizer a faria mudar de ideias, pois ela sempre teve um fetiche por homens fardados e o Fábio trabalhava no Burger King.