2012-01-06

Nunca mais é Março...

Será que também vão ao programa do Goucha?

2012-01-05

A punchline é "e é por isso que deixei de beber tequilha antes de me deitar"

sonhei que entrava numa floresta
a escuridão envolvendo-me
as árvores crescendo selvagens
obstruindo um caminho invisível que insistia procurar
e que existia apenas na minha convicção
no ar apenas o silêncio
quebrado aqui e ali pelos meus passos esmagando as folhas caídas
as árvores cada vez mais densas
como que lutando entre si por um lugar, pela vida

foi então que reparei que as árvores não eram árvores
eram corpos
corpos tentando fugir à terra
esticando seus braços para o céu
pedindo clemência
faces deformadas pelo horror
no chão as folhas não eram folhas
eram lágrimas geladas
e gritos petrificados que se quebravam debaixo dos meus pés

onde antes havia silêncio havia agora o gemido incessante de um vento frio que me cortava a face
e o gemido passou a uivo
e o uivo passou a grito
e o grito a um coro de choro e lamúrias indecifráveis que pareciam chamar por mim
as raízes, os membros deformados, prendiam-me as pernas
puxavam-me para si
quis correr, fugir, mas as árvores, os corpos, empurravam-me
detiam-me
derrubavam-me

haveria decerto uma saída
pensei que haveria decerto uma saída
mas a cada passo o espaço diminuia
as árvores, os corpos, mais e mais perto
negavam-me a retirada e a esperança
os seus galhos, os seus braços, enrolando-se no meu pescoço
o espaço, nenhum
o ar, pouco
imóvel
preso
a minha voz juntando-se ao vento

reparei então
com o último suspiro
que a face das árvores, dos corpos
era a minha