2011-04-28

He's got no style, he's got no grace, he's banal and facile, he's a fat waste of space

Os sinais estavam lá: a cada vez mais baixa tolerância para com adolescentes, a súbita concordância com opiniões veiculadas por taxistas, os estranhos ruídos que o meu corpo emite sempre que me levanto e as dores no ombro que só passam ao fim de dois dias quando jogo squash. Sim, eu sei, "squash?, que pequeno-burguês da tua parte, pá", dizem vocês, mas o que a gente joga não é tanto squash-squash mas antes aquilo a que eu gosto de chamar street squash, onde a única regra é a da sobrevivência - que o diga o AFS, que um dia foi para as urgências depois do Sav10 lhe ter redecorado a cara recorrendo apenas a uma raquete, não sem antes, claro, deixar uma litrada de sangue no court.

Seria de esperar, por isso, que eu já tivesse dado conta de que já não sou um jovem, apesar de ainda usar ténis, t-shirts com bonecos e dizer coisas como "bué" em vez de "muito" e "iá" em vez de "com certeza, cavalheiro".

No entanto, a realidade só se me assomou quando li o resultado das últimas análises e verifiquei que tenho colesterol. Ou melhor, colesterol "ligeiramente" elevado. "Tens de começar a tomar comprimidos para controlar isso", disse o meu pai. Eu ri-me. Ele não. Foi quando percebi que ele estava a falar a sério. Comprimidos, eu? Uppers e/ou downers acompanhados de meia garrafa de Black Label, ok, mas comprimidos para controlar o colesterol, uma coisa que não se vê e nem sequer dói? Daí a passar a usar calças pelo estômago e a dizer coisas como "no tempo do Salazar é que era bom" é um passo demasiado pequeno para o meu gosto. E é por isso mesmo que não só não o vou fazer como também vou continuar a entupir as artérias de gorduras hidrogenadas como sinal de rebelião contra... bem, contra mim e a minha persistência em envelhecer.

O único ponto positivo é que, aparentemente, o meu nível de basófilos está baixo, o que significa, deduzo eu, que o risco de incorrer em basófia é pouco.

2011-04-15

Pale Force

Todos os anos, mal surgem os primeiros raios de sol acompanhados por temperatura amena, tenho, invariavelmente, de ter a mesma conversa. "Tens de ir à praia, estás muito branco". Não, não tenho. Porque um) na praia está calor e eu não gosto de calor, e dois) na praia estão pessoas e eu não gosto de pessoas. Além disso já investi muito tempo nesta palidez cadavérica para agora desistir dela.

2011-04-14

Family ties

A dualidade de critérios é gritante. Se o meu chefe tem uma fotografia da mulher e da filha na secretária é muito bonito, porque é marido e pai dedicado e mais não sei o quê, mas eu já não posso. É inapropriado e descabido, diz ele, que eu tenha fotografias da mulher e da filha dele.

2011-04-05

A friend with breasts and all the rest

Isto assim é demais, é tudo demasiado fácil. As mamas, quero eu dizer.

Dantes, se quisesse ver um par - ou uma só que fosse - tinha que ir ao dentista e tentar, discretamente, dar um olhinho à revista do Correio da Manhã onde aos domingos vinha uma senhora descascada. Às vezes nem tinha consulta, ia mesmo só para morder o ambiente e pôr a leitura em dia.

Ou então tinha que esperar por aqueles filmes franceses que davam na RTP2 - que as francesas raramente desperdiçam uma oportunidade de pôr as mamas ao léu. Aliás, quando estive em Cannes aquilo era só mamas reluzentes de óleo pululando no areal ali à beira da estrada. Tetas - como diria um amigo meu - capazes de causar acidentes. É o mesmo amigo, por sinal, que quando lhe perguntamos se não está já velho demais para andar a fazer-se ao piso a jovens acabadas de sair da segunda década de vida, responde que "se se sentarem no passeio e chegarem com os pés ao chão já servem". E, por coincidência, ou não, é o mesmo que uma vez me disse que me ia apresentar uma amiga que tinha "mais quilómetros de pila que daqui a Angola" - agradeci mas recusei; porque, convém salientar, na altura estávamos mesmo mesmo muito longe de Angola.

Enfim.

Agora é só facilidades. Liga-se o computador, abre-se o correio e são logo dezenas de powerpoints com gatas gostosas ou garotas safadas, e clips de 30 segundos que demonstram quão bonito e terno pode ser o amor entre um homem e três mulheres. Ou entre uma mulher e uma vasta selecção de animais de quinta. Ou algo com shemales - a sério, já viram um(a) shemale? A princípio vêem as mamas e ficam mmm..., mas depois vêem a pila e ficam logo AAARGHHH! e a pensar se agora são gays. E depois, numa espécie de reflexo condicionado, apesar de racionalmente ser a última coisa que querem fazer, olham outra vez. E então, ainda que tenha sido completamente involuntário, ficam com a certeza que são mesmo gays, o que é uma chatice porque agora têm de lidar com o drama todo que isso acarreta: informar a família - o choro compulsivo da mãe, a porrada do pai, mais os achaques das tias e os olhares reprovadores dos primos -, comprar roupas de marca muito coloridas, ir ao solário, apresentar concursos na TVI, e mais um sem fim de chatices que, imagino eu, compõem o dia a dia da comunidade homossexual. O que vale é que, entre os e-mails, mais tarde ou mais cedo se encontra um vídeo da Aletta Ocean e depressa chegamos à conclusão que continuamos heteros a valer, o que vem mesmo a calhar porque isso de ser gay pode ser muito giro e muito colorido - por causa dos arco-íris e dos póneis e isso tudo -, mas a parte da sodomia não me parece mesmo nada agradável. A menos, claro está, que se seja mulher, que a Aletta parece-me sempre que se diverte imenso e isso é quanto me basta como prova científica.

O que eu quero dizer é que os adolescentes de hoje já não conhecem a adrenalina da caça. Já não sabem o que é rondar aquele quiosque onde o senhor não conhece os nossos pais à espera que não haja ninguém à volta para finalmente avançar, com as pernas tremendo de antecipação, para comprar "A Bola, uma Gorila... e o Sexus, se faz favor". Ah, o Sexus!... Como a leitura dos seus relatos verídicos preenchiam as minhas tardes. Enquanto uns liam as aventuras d'Os Cinco, eu lia sobre a aventura da Amélia com cinco matulões na piscina da vivenda no Estoril enquanto o seu marido estava ausente numa viagem de negócios. Também havia o Sexy Club, mas esse era mais caro porque era a cores. Era para burgueses, portanto, e eu sempre soube qual era o meu lugar na escala social. Não digo que nunca tenha comprado nenhum, mas foi só para ver como era e como vivem os mais abastados. Como daquela vez, no 9º ano, que dancei - porque fui obrigado pela stôra de Francês, que fique bem claro - com a Mafalda, que era rica. Quer dizer, se andava na mesma escola que eu não devia ser rica mesmo rica, mas pronto, em comparação. Vestia polos da Amarras e calças da Benneton, da Chevignon e da Ton Sur Ton.

Até na televisão nos dão mamas assim, sem mais nem menos. Se no meu tempo houvesse séries como o Californication [pausa para que todos possamos pensar nos seios da Eva Amurri] nunca teria sido capaz de ficar tão ent[ah, e já agora nos daquela moça que faz de Sasha Bingham nesta última temporada - uff!!!]usiasmado com as invasões ao balneário das raparigas que acon[e a pequenita Madeline Zima?, lembram-se dela da série Nanny Fine? eish, que... crescida que está, a cachopa]teciam após as aulas de Educação física do 10º ano.

É uma geração de putos indiferentes à mama que estamos a criar, e eu, no que me toca, nada quero ter a ver com essa gente.

2011-04-04

Fingers smeared with Kissing Red and melted chocolate

Diz-se que, mais coisa menos coisa, cerca de 60% do corpo humano é água. Isso não é, no entanto, verdade para todos. Tenho uma colega, por exemplo, cujo corpo é 80% mamas.