2010-05-24

Vuvuzela

Problema. Temos aqui um grave problema. Muito grave e com tendência a piorar de forma lancinante no decorrer das próximas semanas. E o problema tem um nome: Vuvuzela.
Durante o período que antecedeu os mais recentes Campeonatos da Europa e do Mundo, fomos convencidos a provar o nosso apego à pátria colocando a bandeira das quinas na janela. Para além de ser um acto silencioso, o colorido que emprestou às ruas foi agradável.
Mas este ano é diferente. Muito diferente. Em 2010 não há bandeirinhas ao vento. Isso é um acto do passado. Retro e em desuso, portanto. Nos dias que correm, português que é bom português toca a vuvuzela. E toca muito. Toca em casa, toca na rua, toca no carro, toca no transporte público e aposto que até os hospitais irão inaugurar alas onde os enfermos poderão tocar o instrumento sul-africano. Tudo pela Selecção de Todos Nós. Vuvuzelando pelos jogadores.
Vuuuuuuuuuuuuuuummmm vuummmmmmmmm vummmmmmmmmm
A sério... não é nada normal... há para aqui qualquer coisa de ruidosamente errado e extremamente sádico. E algo me diz que com o passar dos dias tudo ficará pior. Algo me diz que vêm aí resmas de passatempos de rádio e televisão. Daqueles mesmo, mesmo bons.
"Mostra o teu apoio à Selecção Nacional tocando vuvuzela durante 98 horas seguidas, segurando o instrumento com os pés e utilizando a narina esquerda"
"O teu cão sabe tocar vuvuzela? Não?! Então ensina-o e mostra o teu apoio à Selecção Nacional"
"Consegues fazer sexo enquanto tocas três vuvuzelas em simultâneo? Prova que sim e mostra o apoio à Selecção Nacional"
Vou sofrer tanto. Mas tanto, tanto, ao ponto de nem conseguir quantificar o nível de dor que irei sentir.
Socorro!

2010-05-19

Se cá nevasse fazia-se cá ski

Se eu vos dissesse que pratico desporto a vossa reacção imediata, partindo do princípio que não se riam, seria apalpar-me os músculos e suspirar lânguido-asmaticamente. No entanto, se eu vos explicasse que o desporto que pratico consiste em flectir ligeiramente os joelhos, debruçar-me sobre mim próprio atirando os braços para trás e, posteriormente, lançar-me de uma ribanceira abaixo mantendo-me o mais imóvel possível, vocês diriam, e com razão, "pá, isso é estúpido." E, no entanto, essa é uma modalidade olímpica conhecida como saltos de ski. "De" ou "em", não sei. Quer dizer, não é olímpica-olímpica, é olímpica de inverno, que está para os Jogos Olímpicos a sério como aquele vosso primo de 22 anos que se ri com a boca toda aberta e bate palmas quando vê os Power Rangers está para o resto da família.

Percebo a existência de outras modalidades, como a patinagem artística, que dá oportunidade a homens adultos de usar fatos cheios de lantejoulas e rodopiar em bicos de pés sem ter que encarar um touro, ou o curling, mais popular entre as mulheres de meia idade que a menopausa e que é um desporto que exige precisão e mestria na utilização de uma vassoura. E hóquei em gelo - isso sim, um desporto a sério - em que homens desdentados que se deslocam a grande velocidade em cima de lâminas se agridem mutuamente com paus. Mas saltos em (de?) ski? Não me lixem.

Não bastava a Eurosport (ênfase em sport) transmitir campeonatos de dardos e jogos de cartas como se isso fosse desporto? Ou ciclismo? A sério, nada que possa ser feito com rodinhas de apoio ou por pensionistas numa taberna pode ser considerado desporto, por isso, senhores do Comité Olímpico, por favor, revejam rapidamente a definição dessa palavra ou ainda vamos ver o Macaco Chinês como modalidade nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

2010-05-18

I'm a poor lonesome cowboy

Carreguei o carrinho de mão com o material de escritório, os dois monitores e um plasma de 60 polegadas e dirigi-me para a saída. "Adeus Júlia e Bea, adeus Pancho, adeus Piraña, adeus Chanquete", atirei eu ao passar por eles. Como só lá estive dois anos e não tive tempo de memorizar os seus nomes, improvisei. Mas não interessa, o que conta é a intenção. As suas lágrimas contidas e mascaradas de sorrisos, high-fives e "iupis" foram a sua despedida.

Ao Snoopy e ao Pirata, os malaicos do... da... daquele departamento que fica na primeira sala do lado direito de quem entra, lancei apenas uma piscadela de olho enquanto, apontando-lhes uma pistola improvisada com os dedos, emitia dois estalidos com a língua baixando e levantando o polegar simultâneamente. Ao passar pela Jennifer, a estagiária alemã, lamentei não ter levado um carrinho de mão maior e algum clorofórmio. Ou éter. Ou uma moca.

Atravessei o parque de estacionamento pela última vez e tirei o panfleto do "clube de cavalheiros" do meu pára-brisas - os meus já vinham personalizados, estou certo que a minha partida vai ser um rude golpe para o Yuri, o dono do Pink Perestroika, e para todas as suas artistas. (A propósito, se alguma vez lá forem dirijam-se ao bar, digam a frase "você sabia que o sabiá sabia assobiar?" e rodem três vezes sobre vocês próprios. Essa é a password para vos levarem a uma sala na cave onde acontece o verdadeiro espectáculo. Não vos quero estragar a surpresa, mas se tiverem o estômago fraco levem um saquinho de plástico.)

Levantei a gola do meu pólo cor-de-rosa, coloquei a cassete dos Climie Fisher, ajeitei o cd que trago pendurado no retrovisor e arranquei. Enquanto me afastava, as lentes espelhadas dos meus óculos reflectindo o sol que se punha no horizonte, olhei uma última vez pelo espelho, e ao avistar os meus ex-colegas à distância fazendo uma pequena dança - decerto algo de típico da região que serve para homenagear seres humanos espectaculares - murmurei para mim mesmo, por entre o nó que me apertava a garganta, um último "adeus". E depois tirei a gravata. E vinte minutos depois o travão de mão.

2010-05-11

Star spotting

Todos os dias passo pela Lady Gaga a caminho do trabalho. Quer dizer, ou é ela ou uma sem abrigo que dorme enrolada em cortinas de banheira e rolos de papel higiénico.

Light my fire

Como é que se queimam sons? Estou há que tempos a tentar chegar lume à música da Ke$ha e nada.

2010-05-10

Room without a view

Quando há muitos anos atrás procurei casa pela primeira vez, foi-me mostrada uma, no Alto de Santa Catarina, que, pela "vista fantástica do Rio Tejo" custava trinta e tal mil contos - para aqueles de vocês demasiado novos ou demasiado ricos para saberem o que é um conto, deixem-me dizer-vos que trinta mil era demasiado para um jovem no seu primeiro emprego (embora, sejamos honestos, se estão a ler algo num blog chamado Caracóis & Tremoços a probabilidade de auferirem mais que uma pensão por invalidez que extorquem ao Estado através de um esquema montado com o vosso primo que é enfermeiro no posto da Cruz Azul é extremamente reduzida).

"Ouça", disse eu ao Sr. José Rui, "ponha-me tapumes ou tijolos ou o que quiser aí nas janelas e abata-me uns milhares ao preço, que se eu quiser ver água vou para a casa de banho e encho a banheira." Escusado será dizer que a minha sugestão, apesar de brilhante, não foi aceite e eu não fiquei com o apartamento.

O facto é que eu nunca percebi muito bem porque razão uma casa com vista para o rio, mar ou oceano é mais cara por isso mesmo. Quer dizer, faria sentido que se ficasse em frente a uma fábrica de cortumes ou a uma lota fosse mais barata, mas o inverso, apenas porque em dias em que não haja nevoeiro se consegue ver um bocado de água, isso é, para mim, incompreensível. Aliás, recordo-me bem que quando aparecia água no roupeiro dos meus pais eles chamavam ao vizinho de cima coisas que rimavam com "lambão filho da fruta" e, diferenças geracionais à parte, tenho a certeza que não era assim que eles manifestavam alegria.

Admito que é uma coisa gira para mostrar às visitas na primeira vez que lá vão a casa, mas se depois disso o continuarem a fazer isso já é idiota. E quem é que, sem ser a porteira do prédio ou aquele vosso tio que usa camisas de manga curta abotoadas até acima que mora em frente à escola primária, passa os dias à janela a contemplar a vista? Ninguém.

Não pretendo dizer à indústria imobiliária como fazer o seu trabalho, mas hoje em dia tenho vista para um ecoponto e sou feliz. Quer dizer, tão feliz como alguém como eu pode ser, mas isso é outra história.

The rain in Spain stays mainly in the plain

Esteve um colega meu a dizer-me que a Warner Bros tem uma promoção qualquer em que trocam DVDs por bolo-rei. Não obstante a estupidez inerente a semelhante campanha, ficariam surpreendidos com a quantidade de tempo que demorei a perceber que ele não se estava a referir a bolos cobertos de fruta cristalizada mas sim a Blu-Ray.

2010-05-03

Ping 127.0.0.pong

Disse à Carla que ela era a mulher dos meus sonhos. Ela corou e sorriu timidamente.

O que eu não lhe disse é que nesses sonhos ela faz truques espectaculares com anacondas e bolas de ping pong.

2010-05-01

Na'viLusitano

A olhar para a televisão. Deprimido a olhar para a televisão. Muito deprimido a olhar para a televisão. Muito deprimido a olhar para a televisão, observando um conjunto de belos portugueses a falarem na língua dos habitantes de Pandora. O objectivo?
"Falem Na´vi e ganhem um DVD de Avatar."
Logo à partida, confesso que a linguagem inventada por James Cameron tem o condão de arrasar com o meu sistema de nervoso. Sempre que assisto a excerto do filme, fico arrepiado... mas no mau sentido do arrepio corporal. Um arrepio que pertence à desagradável gama "Mas que Merda de Arrepio Este".
Parece que sofrem de problemas de fala, colocando a língua em posições muito pouco naturais no momento em que decidem emitir um som. Mal ouço as criaturas sou imediatamente invadido por pensamentos feios, pouco dignos e de alguma falta de carácter.
"Voltas a tocar com a língua na faringe enquanto falas e vais para a jaula. Ou para o circo. Ou envio-te para Espanha, onde irás trabalhar na apanha da azeitona, sem receberes qualquer tipo de remuneração... à lei do chicote. Sempre quero ver se depois ainda conseguirás levantar a caudinha, ó grandinho!"
Convém referir que, para piorar a situação, os Na'vi lusos estavam pintados de azul. Azulinho. Com uma tinta que tudo leva a crer que provocará graves repercussões na epiderme. Sinceramente, fiquei com a sensação que deram uso a uma latinha de CIN fora de prazo.
Se lhes cair uma orelhinha, estilo Lázaro, é bem feito para não se armarem em Strumpfs extraterrestres com defeito na fala. Por amor da santinha... ele há cada um...