2011-12-30

A heart full of napalm

"Que ar tão triste", disse a minha colega ao passar por mim no corredor esta manhã. Triste? Triste?! Eu não fico triste! A tristeza é uma disposição feminina. Os homens - pelo menos os homens de verdade, dos que têm pêlos no peito - mas pêlos a sério, daqueles crespos, que encaracolam e dão para arear pratas - não ficam tristes. Alguém alguma vez viu o Clint Eastwood triste? Claro que não. O mais perto que ele alguma vez chegou de estar triste era quando se lhe acabavam as balas do seu revólver e tinha de parar de matar mal-feitores. "Ah, mas no Million Dollar Baby ele até chora." Sim, chora, mas é de raiva por não ter o seu seis-tiros para matar o banquinho que matou a Hillary Swank. Por isso, em conclusão, nós, os que não gostamos de nos depilar para ficar suavezinhos como uma menina de 12 anos, não ficamos tristes. Ficamos zangados. Furiosos. Enraivecidos. Coisas assim, másculas, que invocam imagens mentais de gritos primordiais lançados aos céus sob chuva intensa enquanto relâmpagos rasgam a noite escura e heavy metal se ouve ao fundo. Entendido?

2011-12-15

Speaking in tongues

Muita gente me pergunta como é que eu consigo ser um conversador tão bom, de respostas e tiradas tão rápidas quanto espirituosas e, globalmente falando, um ser humano de valor superior à média. A verdade é que não é fácil e requer, até, bastante trabalho. Todos os dias dedico algumas horas para anotar algumas frases, seleccionar as melhores e decorá-las para que, mais tarde, as possa usar. É um processo moroso, por vezes frustrante, mas essencial para que quando em situações sociais não submetamos os convivas a conversas de baixo índice de interesse ou a frases desprovidas de espirituosidade, estilo ou de sentido único.

E tanto elaboro frases e bitaites generalistas como pessoais, intencionados para pessoas específicas. Tenho aqui uma em inglês, por exemplo, para atirar à Emilija - meu Deus, a Emilija... - da próxima vez q -- deixem-me só fazer aqui um apart... aparthai... àpar... parêntesis: eu sou um homem discreto. Não sou o tipo de indivíduo que olha alarvemente para todo o rabo de saia que passa como se a sua próxima refeição dependesse exclusivamente da correcta avaliação da copa alheia. Está no meu raio de visão directa ou periférica? Então aprecio, discretamente, por vezes entortando os olhos, é certo, de maneira a conseguir acompanhar, finalizando com um "porreiro, pá, porreiro" à Sócrates para mim mesmo, mas é só. Não me volto, não assobio, nem as sigo até casa para descobrir a morada e o número de telefone para depois lhes ligar de madrugada com respiração ofegante como a Sónia do 12º E disse que fiz. Bom, eventualmente arquivo a imagem mental para utilização posterior, mas isso é outra história. No entanto ela - a Emilija - apanha-me sempre desprevenido, como se o meu cérebro não fosse capaz de processar a imagem que os olhos lhe transmitem, começasse a gritar DOES NOT COMPUTE e simplesmente se desligasse, tranformando-me num idiota capaz apenas de comunicar por grunhidos -- mas dizia eu, tenho aqui uma em inglês para mandar à moça da próxima vez que a vir: I'm no Casanova but I'd make you moan like Sharapova, make you collapse like a supernova, until you scream "I quit, game ova." Ok, não é Shakespear, mas dado que eu também não consigo articular grande coisa na presença dela sem me babar, não faz grande diferença. Aliás, se eu hoje sei o nome dela isso é nada menos que um milagre:

- Hey... I... you... I AD, yes?
- Hum... hi. I'm Emilija.
- Yes. Nice. Emília. Like... like Place of Picapau Yellow, yes? Haha...
- Hum?...
- Yes. Place... Saci Pererê. Sassai!
- Err... sorry, what?...
- Sassai Pererui... and Pedro and Chico...
- I'm not... I have to go...
- Ah, no, wait, Chico was other thing with dog and other dog and twin...
- I really have to go. Bye.
- ... but I lubidubidu (*)...

Na verdade, e atendendo ao passado, até acho que correu bem.



(*) Juro que em russo, foneticamente, isto quase faz sentido.