2011-02-03

The end is the beginning is the end

2011-02-01

Bad medicine

I.

Ela insistiu, por entre sorrisos contidos, os seus olhos azuis - com a timidez fingida das tentadoras - fixos nos meus, que eu tirasse a gravata e a camisa. Fi-lo lentamente, deixando cair a roupa no chão. Aproximei-me. Vi-a agitar-se na cadeira - sabia que o seu corpo ardia de desejo, tal como o meu. "Por favor", começou ela. Com o dedo sobre os lábios fiz-lhe sinal para que nada dissesse e continuei a despir-me. "Por favor", repetiu, quase em jeito de súplica, "não precisa de se despir todo para fazer o electrocardiograma."

Oh, os jogos que a sedução nos obriga a jogar.

Revelou-se uma profissional exemplar, sem dúvida com todas as vacinas em dia, pois foi sempre imune ao meu charme. Até mesmo quando lhe fiz notar que era injusto eu ser o único em tronco nu. Despedi-me com a promessa de a procurar e ela com a promessa de mudar de cidade.

II.

À espera da minha vez para fazer as análises, fingindo estar ao telemóvel para que nenhum colega se lembrasse de meter conversa comigo, não pude deixar de reparar que o médico / enfermeiro encarregue da recolha de sangue tinha uma daquelas famosas pulseiras do equilíbrio. E se, por um lado, pouco me importa quão crédulas as outras pessoas são, por outro há dois tipos de pessoas que eu não quero ver a usar isso: profissionais do ramo da saúde e pilotos de avião - e isto porque prefiro pôr a minha vida nas mãos de pessoas que não acreditem que uma pulseirinha de borracha com um kalkito estampado lhes alinham os chakras, em magia em geral ou na força do pensamento positivo. Que tipo de medicina é que podemos esperar dali? "Ora para essa sidazita marota que você aí tem vou-lhe receitar uns cristais para pendurar por cima da cama, e vai meditar três vezes ao dia, antes das refeições, está bem? Daqui a seis meses, se ainda estiver vivo, passe por cá outra vez."

Aliás, agora que penso nisso nem tenho a certeza se o gajo era médico. Podia ser só um tipo qualquer com uma bata branca e uma seringa. "Oh jovem", disse-me ele, "orienta-me aí um coche de sangue." E eu tudo bem. Tenho que deixar de confiar assim cegamente nas pessoas.