2010-03-30

Trivia

A pergunta era "qual o apelido dos artistas Ray, Cat e Sufjan?"
Alguém respondeu, de imediato, com toda a certeza do mundo "Jones!"

Essa pessoa fui eu. Porque tenho todos os discos do Cat Jones.

Cat Jones interpreta Nocturnos de Chopin em dó menor e fá sustenido

2010-03-29

That was pretty fuckin' trippy

Acordei no sábado à tarde no sofá com o desnorte normal de quem acabou de dormir uma sesta que não merecia. Rodei sobre mim próprio, voltando-me para a televisão de onde vinha um som difícil de descrever. Um som que não parecia humano, mas antes o lamento de um cavalo em sofrimento somado a uma betoneira misturando vidro partido e gatos vadios. Era o Toy. A cantar em inglês, para uma plateia de pensionistas, num palco que tinha ao seu lado um cartaz enorme onde se lia "Ourique - Capital do Porco Alentejano". Por momentos temi que a espectacularidade daquilo a que assistia fosse demais para mim e que me fosse rebentar uma veia no cérebro. Depois cheguei à conclusão que estava a alucinar, como daquela vez que tomei um Coricidil e pensei ter visto a Linda Reis a fazer strip tease na televisão. Que outra explicação havia para aquilo que estava a ver que não a ingestão desregrada de psicotrópicos? Nenhuma.

"Estas trips estão cada vez mais maradas", pensei, "é a última vez que tomo ácido. Este fim de semana."

E foi.

A menos que domingo também conte.

2010-03-26

I dream a dream

Tal como os meus pais quando eu tinha oito anos, também o meu médico de família me aconselhou a abdicar dos sonhos. Mas neste caso é porque os fritos me fazem mal ao colesterol.

Siga aquele táxi

Tentei seguir o meu sonho mas ele despistou-me. E depois pediu uma ordem de restrição contra mim.

2010-03-23

Forever young

Como sou um ávido estudante da natureza humana e como pretendo ser jovem para sempre, vou passar a emular os meus colegas mais novos, a começar pelo que há pouco passou por mim no corredor mascando pastilha elástica com a boca aberta e cumprimentando-me piscando o olho e dizendo "'tão?"

Isto vai exigir de mim um estudo constante, pois ainda agora tinha acabado de decorar a letra daquela música "camaleidi, cacamaleidi, iô má bâtarflai, chunga, beibi" e, pelos vistos, já passou de moda.

I've been known to be quite handsome in a certain angle and a certain light

A parte chata de fingir que sou simpático é as pessoas acreditarem, porque depois sentem-se à vontade para me abordar com questões que estão tão longe de me interessar como um estudo sobre os hábitos migratórios do bacalhau norueguês. Alguém que dantes pensava "aquele senhor é mau e feio e por isso vou evitar qualquer tipo de contacto com ele, seja verbal, visual ou olfactivo", é depois confrontada com pensamentos do género "aquele senhor é simpático e, sob uma certa luz e de um certo ângulo, é até bastante bem parecido, por isso vou partilhar com ele as minhas dúvidas sobre determinadas temáticas que é algo que ele certamente apreciará, por se tratar de um ser humano extremamente caloroso e de um membro produtivo da nossa sociedade."

Pedem-me, então, um "conselho técnico" sobre a promoção espectacular anunciada num folheto que encontraram na caixa do correio sobre computadores portáteis ou se devem fazer o upgrade para o Windows 7 - e graças a mim cada vez há mais Celerons vendidos com o Windows ME instalado - e trazem os seus computadores pessoais de casa para eu dar um olhinho - claro que eu não me importo, até porque aproveito sempre essas ocasiões para procurar fotografias no disco rígido e copiar todas as que envolvam mulheres, filhas, namoradas e / ou amigas em trajes menores ou, simplesmente, sem qualquer tipo de traje. Aproveito também para editar todos os currículos que encontre gravados - nada de especial, acrescento apenas coisas como "taxidermia", "necrofagia" ou "satanismo" na parte dos hobbies, ou adiciono o endereço www.incestisthebest.com como página pessoal.

Não sou um tipo simpático. É preciso é conhecer-me para o descobrir.

2010-03-19

Sexy dating


Aparentemente existem centenas de mulheres na minha zona à espera que eu as satisfaça - quem quer que sejam, obviamente já ouviram falar de mim. Infelizmente de momento estou ocupado, por isso vá lá um de vocês por mim, por favor. Obrigado.

2010-03-17

Let's not start sucking on each other's dicks quite yet

Certa vez, um cliente, da zona de Viana do Castelo, da empresa para a qual trabalhava, disse-me para lhe telefonar se alguma vez fosse a Caminha que ele dava-me tratamento VIP.

Meses mais tarde, ao prestar-lhe assistência remota, abri o seu Internet Explorer e não pude deixar de reparar nos Favoritos, onde constava uma extensa lista de sites relacionados com travestis e transexuais. Depois disso fiquei na dúvida se ele tinha dito que me dava tratamento VIP em Caminha ou na caminha.

2010-03-16

It's a kind of magic

Ninguém está mais a par de que a magia não só existe como acontece todos os dias do que qualquer pessoa que trabalhe em informática e lide directamente com utilizadores. "Eu não fiz nada", dizem eles. Nunca ninguém fez nada, mas computadores de senhoras envergonhadas aparecem com bombeiros muito pouco - ou nada - equipados para combater incêndios escarrapachados no monitor, desaparecem da rede pastas inteiras cheias de documentos, e ecrãs de portáteis aparecem partidos. Mas, garantem eles, não fizeram nada. Magia!

Mas não é aquela magia de truques de cartas e lenços coloridos que se aplaude a contragosto no Natal dos Hospitais, é magia negra. Vudu. E cada episódio é mais um alfinete no meu boneco de trapos.

Já experimentaram pôr uma disquete atravessada numa drive? Não é fácil, mas eu uma vez tive de recorrer a um alicate de pontas e a um almoço reforçado para conseguir tirar uma. A ciência ainda não chegou a um resultado definitivo no que diz respeito ao número de traumatismos cranianos necessários para fazer semelhante coisa, mas estou certo que é para cima de muitos. E se por um lado, sim, acho que a pessoa que o fez é uma besta como há poucas, por outro reconheço que ou tem a persistência de um campeão ou o talento para as artes ocultas de um jovem Professor Karamba.

Pelo sim pelo não, todos os dias sacrifico uma galinha preta para tentar afastar os maus olhados. Não está a resultar, mas a canja é saborosa.

2010-03-15

Ooo-lá-lá

Uma destas noites sonhei que dava prazer a seis mulheres em simultâneo. Diziam "ooo-lá-lá", chamavam-me "chérie" e passavam a ponta dos seus dedos pela minha face. Trocávamos olhares cúmplices e sorrisos cheios de malícia. Cercavam-me, puxavam-me, disputavam entre si a minha atenção por entre risos quentes de volúpia. Segredavam-me os seus desejos, e eu acedia a cada um dos seus caprichos. De uma e outra e outra e... sempre assim, até ao fim, até acordar.

Foi uma experiência única, estranha, até. Nunca antes tinha sonhado pagar uma ida às compras na Louis Vuitton.

2010-03-12

Abracadabra também não funciona

Hoje vim trabalhar com uma camisa havaiana que descobri no fundo do roupeiro e que tive de disfarçar debaixo de um pulover. As meias são as mesmas desde segunda feira. A minha camisola interior é uma t-shirt d'O Justiceiro rota no sovaco. Já não tenho roupa lavada e acho que não vou conseguir continuar a culpar o Miguel do Financeiro, que tem sempre o cabelo lambido para o lado e que cheira a pombo e a naftalina, pelo odor.

Tudo porque, confesso, há tecnologias que eu ainda não domino. A do cesto da roupa suja, por exemplo. Dantes depositava lá a roupa encardida e fedorenta e passados uns dias ela aparecia lavada e engomada. Agora não. Ponho-a e lá fica, empilhada, feita parva a tentar imitar a torre de Pisa. Nem técnicas que dantes eram infalíveis, como gritar "onde está a minha camisa das riscas azuis, foda-se?" resultam.

Não sei onde estou a errar. E ainda por cima não sei onde está o manual de instruções do cesto.

2010-03-08

I have a dream

Quando me perguntavam o que é que eu queria ser quando fosse grande, fazia sinal com a minha mãozinha sapuda para esperarem, pegava na carteira da minha mãe e nas chaves do meu pai, ia ao clube de vídeo, alugava o filme Os Doze Indomáveis Patifes, voltava para casa, apontava para a cassete Beta Max e dizia "ito". Ao contrário dos meus colegas de infantário, que queriam ser médicos, jogadores de futebol ou astronautas, eu queria era ser mau como as cobras. Queria ter a intensidade do Lee Marvin, o olhar gélido do Clint Eastwood e o desprezo pela vida humana do Charles Bronson. O meu pai ria-se e, despenteando-me carinhosamente, dizia-me que não podia ser um polícia justiceiro que agia à margem da lei em busca de vingança na S. Francisco dos anos 70, nem podia fazer parte de um bando de cowboys extremamente do best ou entrar em missões suicidas em nome do governo americano.

Algum tempo passou, amadureci com a primeira classe e, gorado aquele sonho, decidi que o que eu queria era ser sexy. A minha mãe sorriu, chamou-me patetinha e perguntou-me se já me tinha visto bem ao espelho.

Cheguei então à conclusão que só me restava uma saída: queria ser do rock'n'roll. Fazer música da pesada, solos de guitarra e ter miúdas a fazerem-me coisas que na altura não sabia muito bem o que era mas que, a julgar pelos filmes franceses que passavam no segundo canal, pareciam porreiras. A gargalhada foi geral. "Mas tu não tens nem nunca vais ter talento para absolutamente nada!", exclamou a minha família em uníssono naquela noite de Natal.

Os anos passaram e eu aprendi a esconder dentro de mim todos os meus sonhos, acreditando que jamais teria valor para os concretizar mas recusando-me a deixá-los morrer.

Em boa hora o fiz, pois a minha perseverança venceu e hoje sou tudo o que alguma vez quis:


Atrevam-se a sonhar.

2010-03-05

Para o homem que sabe o que quer

Para mim fazer a barba é quase sempre uma experiência desagradável e às vezes idêntica a um filme gore: há sangue, há gritos, há vernáculo, há horrores inomináveis.

Mas depois há aqueles dias, raros, em que a coisa sai espectacularmente bem. A lâmina é nova, a barba cresceu exactamente o tamanho certo durante a noite, Saturno e Plutão estão alinhados correctamente, Zeus está de bom humor e as minhas mãos não tremem com a pressão da espectacularidade da minha existência.

Como hoje.

Aliás, correu tão bem que foi quase criminoso que não tenha sido aproveitado para um anúncio de after-shave. Denim, Brut ou outro desses que nos minimercados estão entre as bolachas e as cervejas. Nívea não porque é bálsamo e isso não arde e se não arde não é de homem.

Mal entrei no meu local de trabalho as cabeças voltaram-se e colegas de olhar lânguido e lascivo abusaram fisicamente de mim nas suas fantasias imediatas de forma tão intensa que posso até ter engravidado uma ou duas sem sequer as ter tocado. "Hoje estás... não sei... sexy. Ainda mais que o costume. Über sexy.", disseram. Quer dizer, não por palavras, mas percebi que era isso que estavam a pensar, provavelmente enquanto me despiam mentalmente, imaginando que outras partes do meu corpo seriam igualmente suaves ao seu toque (spoiler: nenhumas). As taradas.

Iniquidades

Neste preciso momento, enquanto escrevo o que estão a ler - a sério, equacionem urgentemente o que correu mal na vossa vida para que estejam a ler isto em vez de a estarem a viver como ela deve ser vivida: quebrando regras, pontapeando rabos e anotando nomes, bebendo em excesso, tomando drogas leves, duras e assim-assim, e fornicando como se quisessem coleccionar no vosso corpo todas as doenças venéreas presentes, futuras e passadas - transpiro fúria por todos os poros. Teclas há que saltam com a violência do meu escrever - consoantes mudas, quem precisa delas a não ser os porcos burgueses? - assustando até os vírus que infestam o meu computador.

Uma das mais adoráveis características da minha personalidade é que ao invés de levantar a voz quando estou verdadeiramente irritado, baixo-a. Quanto mais baixo é o meu tom mais perto alguém está de aprender a viver com um sistema respiratório perfurado, e há cerca de dez minutos estava a falar tão baixo que mais facilmente se ouvia relva a crescer que a minha voz.

Porquê? Não vem agora ao caso, mas para equilibrar as forças kármicas, aqui fica um coelhinho fofinho:

Imagem 1: Fofo

That's the question...

Decorar é giro. É uma actividade cheia de graça. Trabalhosa mas com graça. Existe coisinha mais charmosa do que participar na decoração de uma casa? Por acaso até existem mais de mil, mas isso não é agora para aqui chamado.
O que interessa é que estou a decorar a minha nova casa e dava jeito a vossa mãozinha. Talvez das duas ou mesmo das três, no caso de terem nascido com defeito. Quatro é que não, pois isso já impressiona um bocadinho e precisamos de estar concentrados no que realmente importa.
E a ajuda pedida não é muuuuuuuuuito trabalhosa. Um minutinho e está feita. Passou à história. Tipo shot... ou rapidinha resultante de uma ejaculação desgraçadamente precoce... ou consumo de um bifinho pequeno, fininho mas surpreendentemente tenro... ou... acho que já têm uma ideia da rapidez com que será realizada.
Assim sendo, gostaria que respondessem a uma pergunta que me ajudará a melhorar o que tem de ser melhorado.
Tenho de confessar que faltavam algumas perguntas realmente importantes, que em muito facilitariam a tarefa árdua de viver na minha mansão. Mas a que verdadeiramente importa é :

O AD merece uma entrada vitalícia para o Salão Erótico de Lisboa e também para a edição do Burkina Faso?

Mas não, para meu desagrado, esta questão absolutamente vital não foi incluída no planeamento da decoração da minha casa. Chatice. Que maçada. Fica para o próxima. Há que ter esperanças.
Deixa lá AD, fiz a minha parte e tentei meter a cunha. Depois quero uma guiness quando vieres ao meu bairro.

2010-03-04

Baby, baby, baby

O melhor. Infantário. De sempre.

2010-03-03

Vampire Sushi



Não percebo o porquê de tanto hype à volta dos Vampire Weekend, tal como nunca percebi tanto hype à volta do sushi.
Foi só um desabafo!

2010-03-01

Doente = Fome

Começo-me a sentir doente e isso é mau porque me estraga a boa disposição. Sinto-me como um equídeo faminto, tremendo de frio e tossindo sem parar, mas tendo de puxar a carroça, lidando com uma patinha ferida e um terreno esburacado.
Claro que estou a exagerar um bocadinho. Obviamente que não sou nenhum equídeo, pois se assim fosse teria de utilizar um teclado construído especialmente para cascos, o que não é o caso.
Patinha ferida também é coisa que não existe por aqui, estando o carpo e o metacarpo a funcionar na perfeição, para minha enorme felicidade. Pois é, fico feliz ao reparar que as extremidades estão a trabalhar na perfeição. Isso é muito bom.
Também não me encontro a tossir, apesar de sentir um pouco de frio e de ter a sensação que a gripe está prestes a tomar conta do meu corpinho. Mas isso também pode ser devido ao facto de ser hipocondríaco, portanto, nada de anormal.
No que respeita ao terreno, não se encontra esburacado, muito pelo contrário. É bem bonito, sendo composto por tacos de madeira afagados. E afagado é uma bela palavra. Gosto de escrever a dita. Também me agrada afagar, mas isso agora não interessa nada.
Quanto à fome... tenho! Muita! Muitíssima, se há coisa que não perco quando estou doente, é apetite.
Conclusão, exagerei um bocadinho... mas não muito. Reformulando, estou para aqui só e abandonado, como um senhor altivo e bem apessoado cheio de fominha, tendo a certeza que um vírus de natureza estranha já tomou posse de uma parte qualquer do meu corpo, trabalhando em cima de um soalho extremamente bonito e afagado. Sim... afagado... gosto...