2011-12-15

Speaking in tongues

Muita gente me pergunta como é que eu consigo ser um conversador tão bom, de respostas e tiradas tão rápidas quanto espirituosas e, globalmente falando, um ser humano de valor superior à média. A verdade é que não é fácil e requer, até, bastante trabalho. Todos os dias dedico algumas horas para anotar algumas frases, seleccionar as melhores e decorá-las para que, mais tarde, as possa usar. É um processo moroso, por vezes frustrante, mas essencial para que quando em situações sociais não submetamos os convivas a conversas de baixo índice de interesse ou a frases desprovidas de espirituosidade, estilo ou de sentido único.

E tanto elaboro frases e bitaites generalistas como pessoais, intencionados para pessoas específicas. Tenho aqui uma em inglês, por exemplo, para atirar à Emilija - meu Deus, a Emilija... - da próxima vez q -- deixem-me só fazer aqui um apart... aparthai... àpar... parêntesis: eu sou um homem discreto. Não sou o tipo de indivíduo que olha alarvemente para todo o rabo de saia que passa como se a sua próxima refeição dependesse exclusivamente da correcta avaliação da copa alheia. Está no meu raio de visão directa ou periférica? Então aprecio, discretamente, por vezes entortando os olhos, é certo, de maneira a conseguir acompanhar, finalizando com um "porreiro, pá, porreiro" à Sócrates para mim mesmo, mas é só. Não me volto, não assobio, nem as sigo até casa para descobrir a morada e o número de telefone para depois lhes ligar de madrugada com respiração ofegante como a Sónia do 12º E disse que fiz. Bom, eventualmente arquivo a imagem mental para utilização posterior, mas isso é outra história. No entanto ela - a Emilija - apanha-me sempre desprevenido, como se o meu cérebro não fosse capaz de processar a imagem que os olhos lhe transmitem, começasse a gritar DOES NOT COMPUTE e simplesmente se desligasse, tranformando-me num idiota capaz apenas de comunicar por grunhidos -- mas dizia eu, tenho aqui uma em inglês para mandar à moça da próxima vez que a vir: I'm no Casanova but I'd make you moan like Sharapova, make you collapse like a supernova, until you scream "I quit, game ova." Ok, não é Shakespear, mas dado que eu também não consigo articular grande coisa na presença dela sem me babar, não faz grande diferença. Aliás, se eu hoje sei o nome dela isso é nada menos que um milagre:

- Hey... I... you... I AD, yes?
- Hum... hi. I'm Emilija.
- Yes. Nice. Emília. Like... like Place of Picapau Yellow, yes? Haha...
- Hum?...
- Yes. Place... Saci Pererê. Sassai!
- Err... sorry, what?...
- Sassai Pererui... and Pedro and Chico...
- I'm not... I have to go...
- Ah, no, wait, Chico was other thing with dog and other dog and twin...
- I really have to go. Bye.
- ... but I lubidubidu (*)...

Na verdade, e atendendo ao passado, até acho que correu bem.



(*) Juro que em russo, foneticamente, isto quase faz sentido.

12 Comments:

Blogger A said...

ya, eu também gostava muito do sítio do picapau amarelo. o meu episódio favorito foi o do pé de feijão. o saci era muito engraçado, mas não acho bem que uma criança fumasse cachimbo, aquilo era uma criança, não era?

enfim, parece que a globo deitou as cassetes fora e agora temos de gramar com a versão moderna. sem o saci de cachimbo... preferia o saci de cachimbo.

15/12/2011, 14:01:00  
Blogger AD said...

Já conhecia a versão adolescente da Turma da Mónica, mas não sabia que havia uma versão moderna do Sítio do Picapau Amarelo.

15/12/2011, 14:23:00  
Blogger A said...

faz parte da politica de capitilizar as memórias dos telespectadores da faixa etária com maior poder de compra actual. um pouco como fizeram cá com o tom sawyer e a bana e o flapi. é uma prática comum do mercado.

estão agora a fazer uma nova versão da gabriela cravo e canela.

15/12/2011, 14:38:00  
Blogger AD said...

E para quando o Christian Bale como Capitão Power num remake do Capitão Power e os Soldados do Futuro?

15/12/2011, 14:54:00  
Blogger A said...

tu és resiliente, digo-te isso, AD.
Isso, ou não estou a conseguir ser tão chato quanto queria :p

queres resolver a cena com o Imilia? diz-lhe algo como: "Want amendoins c'a casca?"

- a parte importante é o "c'a casca".

15/12/2011, 14:57:00  
Blogger AD said...

Resiliente é uma das minhas palavras preferidas. Sempre quis ser resiliente. Como o Shawn Michaels. "Ele é muito resiliente" dizia o apresentador do chapéu de cowboy e face ruborizada pelo ataque cardíaco eminente enquanto o Shawn Michaels levava, faz de conta, porrada de meia-noite.

Mas a parte importante é mas é descascar. A Emilija.

15/12/2011, 15:07:00  
Blogger Jack Merridew said...

Eu gostava muito do Feiticeiro de Oz mas aquilo era muito triste: o Espantalho não tinha cérebro, o Homem de Lata não tinha coração, o Leão não tinha coragem e a Dorothy lá teve de continuar virgem...

16/12/2011, 09:37:00  
Blogger AD said...

Excepção feita à virgem acabaste de descrever o meu local de trabalho.

16/12/2011, 09:52:00  
Blogger tiagugrilu said...

Ahahahahahahahahah!

- Este Ahahahahahahahha! foi para o último comentário, se bem que o texto também merece um Ahahahahahahahah! daqueles em condições.

16/12/2011, 11:57:00  
Blogger AD said...

Ovos da Páscoa!

16/12/2011, 13:27:00  
Blogger grassa said...

Mostra a essa Emilija que tu és um gajo à moda antiga, dado a coisas à moda antiga.

Oferece-lhe um daqueles calendários onde um gajo tinha de raspar para ganhar. Uma erecção.
Mas oferece-lhe um onde, em vez de uma Samantha Fox, está um AD. E onde ela tem que raspar tudo a zona onde está o pénis. Bem visível.

20/12/2011, 13:43:00  
Blogger grassa said...

Falta ali um "menos".

"E onde ela tem que raspar tudo menos a zona onde está o pénis."

20/12/2011, 13:44:00  

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