A friend with breasts and all the rest
Isto assim é demais, é tudo demasiado fácil. As mamas, quero eu dizer.
Dantes, se quisesse ver um par - ou uma só que fosse - tinha que ir ao dentista e tentar, discretamente, dar um olhinho à revista do Correio da Manhã onde aos domingos vinha uma senhora descascada. Às vezes nem tinha consulta, ia mesmo só para morder o ambiente e pôr a leitura em dia.
Ou então tinha que esperar por aqueles filmes franceses que davam na RTP2 - que as francesas raramente desperdiçam uma oportunidade de pôr as mamas ao léu. Aliás, quando estive em Cannes aquilo era só mamas reluzentes de óleo pululando no areal ali à beira da estrada. Tetas - como diria um amigo meu - capazes de causar acidentes. É o mesmo amigo, por sinal, que quando lhe perguntamos se não está já velho demais para andar a fazer-se ao piso a jovens acabadas de sair da segunda década de vida, responde que "se se sentarem no passeio e chegarem com os pés ao chão já servem". E, por coincidência, ou não, é o mesmo que uma vez me disse que me ia apresentar uma amiga que tinha "mais quilómetros de pila que daqui a Angola" - agradeci mas recusei; porque, convém salientar, na altura estávamos mesmo mesmo muito longe de Angola.
Enfim.
Agora é só facilidades. Liga-se o computador, abre-se o correio e são logo dezenas de powerpoints com gatas gostosas ou garotas safadas, e clips de 30 segundos que demonstram quão bonito e terno pode ser o amor entre um homem e três mulheres. Ou entre uma mulher e uma vasta selecção de animais de quinta. Ou algo com shemales - a sério, já viram um(a) shemale? A princípio vêem as mamas e ficam mmm..., mas depois vêem a pila e ficam logo AAARGHHH! e a pensar se agora são gays. E depois, numa espécie de reflexo condicionado, apesar de racionalmente ser a última coisa que querem fazer, olham outra vez. E então, ainda que tenha sido completamente involuntário, ficam com a certeza que são mesmo gays, o que é uma chatice porque agora têm de lidar com o drama todo que isso acarreta: informar a família - o choro compulsivo da mãe, a porrada do pai, mais os achaques das tias e os olhares reprovadores dos primos -, comprar roupas de marca muito coloridas, ir ao solário, apresentar concursos na TVI, e mais um sem fim de chatices que, imagino eu, compõem o dia a dia da comunidade homossexual. O que vale é que, entre os e-mails, mais tarde ou mais cedo se encontra um vídeo da Aletta Ocean e depressa chegamos à conclusão que continuamos heteros a valer, o que vem mesmo a calhar porque isso de ser gay pode ser muito giro e muito colorido - por causa dos arco-íris e dos póneis e isso tudo -, mas a parte da sodomia não me parece mesmo nada agradável. A menos, claro está, que se seja mulher, que a Aletta parece-me sempre que se diverte imenso e isso é quanto me basta como prova científica.
O que eu quero dizer é que os adolescentes de hoje já não conhecem a adrenalina da caça. Já não sabem o que é rondar aquele quiosque onde o senhor não conhece os nossos pais à espera que não haja ninguém à volta para finalmente avançar, com as pernas tremendo de antecipação, para comprar "A Bola, uma Gorila... e o Sexus, se faz favor". Ah, o Sexus!... Como a leitura dos seus relatos verídicos preenchiam as minhas tardes. Enquanto uns liam as aventuras d'Os Cinco, eu lia sobre a aventura da Amélia com cinco matulões na piscina da vivenda no Estoril enquanto o seu marido estava ausente numa viagem de negócios. Também havia o Sexy Club, mas esse era mais caro porque era a cores. Era para burgueses, portanto, e eu sempre soube qual era o meu lugar na escala social. Não digo que nunca tenha comprado nenhum, mas foi só para ver como era e como vivem os mais abastados. Como daquela vez, no 9º ano, que dancei - porque fui obrigado pela stôra de Francês, que fique bem claro - com a Mafalda, que era rica. Quer dizer, se andava na mesma escola que eu não devia ser rica mesmo rica, mas pronto, em comparação. Vestia polos da Amarras e calças da Benneton, da Chevignon e da Ton Sur Ton.
Até na televisão nos dão mamas assim, sem mais nem menos. Se no meu tempo houvesse séries como o Californication [pausa para que todos possamos pensar nos seios da Eva Amurri] nunca teria sido capaz de ficar tão ent[ah, e já agora nos daquela moça que faz de Sasha Bingham nesta última temporada - uff!!!]usiasmado com as invasões ao balneário das raparigas que acon[e a pequenita Madeline Zima?, lembram-se dela da série Nanny Fine? eish, que... crescida que está, a cachopa]teciam após as aulas de Educação física do 10º ano.
É uma geração de putos indiferentes à mama que estamos a criar, e eu, no que me toca, nada quero ter a ver com essa gente.
15 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
Fui eu com os contos de fadas e tu com esse tal de Sexus.
Criámos ilusões, maldita literatura infantil.
Excelente texto.
Se soubesse que havia o Sexus em versão fotonovela, com bonecos e isso, não tinha perdido tanto tempo a ler a versão original, só com letras. Sabes se também há o Plexus e o Nexus?
é o problema desta juventude! têm acesso fácil a todas estas coisas badalhocas e a aventuras badalhocas com jovens badalhocas e desejosas de experiências novas (que imagino, já não serão muitas).
outro problema desta juventude, é que eu nasci demasiado cedo para fazer parte dela. foi por uma nesga, que raiva.
ah! pega lá, AD, para reviveres a tua juventude, mas desta vez em vez do eduardo dos livros, é na biblioteca nacional de portugal que tens de pedir a sexus.
Mas escusas de lá ir antes de Setembro, AD, que a BN está fechada para obras. Eles facilitam o acesso a investigadores com compromissos inadiáveis, mas não me parece que a consulta do pasquim em causa conte para esse efeito...
a BN é a namorada do AD?
(eu não tinha mesmo mais nada para dizer...)
A namorada do AD está fechada para obras? Olha-se para ele e parece que não parte um prato e afinal...
(eu também não...)
Nawita,
Mais que um texto, é uma prova de resistência. E um circuito de obstáculos. E uma parvoíce.
Gata,
O Plexus e o Nexus não sei, mas também havia o Jornal da Sexologia. Serve?
A,
Estou verdadeiramente emocionado por saber que conheces o Eduardo dos Livros. Foi graças à troca de cromos que ele promovia no seu estabelecimento que eu completei a colecção do Ulisses 31.
Espero que saibas que, à terceira referência que fizeste à palavra "mamas", a minha braguilha já era algo que não estava fechada.
Mas alguma vez esteve?...
Olha, fui ao sr. google verificar essa tal de Eva Amurri, e parece que foram desenhadas mesmo Amurro.
Conheço muita mama nacional bem melhor. Compro o que é nosso.
Concordo plenamente! Este geração está completam[hum.... Madeline Zima...] hã? o que é que eu estava a dizer mesmo??...
Só para esclarecer: aquela Isa do comentário eliminado pelo autor, não sou eu.
Grande texto, sim senhores AD, como sempre e aliás.
Mamas. Um assunto delicadissimo, abordado e desenvolvido com a perícia subjacente a só quem é dono do mais absoluto know how.
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