2010-10-29

Let's get ready to rumble

Numa altura em que se perspectiva a greve dos árbitros portugueses, colocando em risco a realização da 10ª jornada do campeonato nacional, proponho uma medida radical mas que, estou certo, melhorará o estado da arbitragem: a contratação de James Bruno, não para se juntar ao grupo de árbitros que já temos, mas para os substituir. A todos. Porque chega e, parece-me, sobra. Quem é James Bruno, perguntam vocês? James Bruno é este senhor:



E os cartões distribuídos, em vez de amarelos ou vermelhos, passavam a ser de melhoras, àqueles jogadores que, inevitavelmente, ficariam acamados.

2010-10-11

Sem título #1

Os meus pais perguntam-me muitas vezes o que é feito daquela rapariga ruiva simpática com quem eu terminei abruptamente um relacionamento amoroso há já alguns anos. Acho que é a maneira subtil de eles me dizerem que vou morrer sozinho embrulhado numa manta num banco de jardim onde os pombos debicarão depois a minha carcaça.

"Sei lá da gaja", digo eu encolhendo os ombros.

Nunca lhes cheguei a dizer a razão pela qual tudo acabou. Nunca me apeteceu fazê-lo. Sou demasiado preguiçoso para aspirar e para dar explicações. No entanto até era fácil, o que não me faltavam eram argumentos.

Podia argumentar, por exemplo, que ela era demasiado alta para mim. Bom, na realidade ela era da minha altura, mas os saltos altos aliados ao meu debilitante complexo de inferioridade faziam-na parecer ter 2,10 metros. Ou andava com uma lista telefónica debaixo do braço para me pôr em cima ou só nos beijávamos sentados.

Podia ainda argumentar que, apesar da sua alva pele, tão alva como a minha, aliás, bastavam-lhe duas semanas de praia para passar despercebida em Marraquexe enquanto eu tinha de optar entre manter a minha palidez cadavérica ou adoptar um bonito mas doloroso tom escarlate, o que nos transformava num poster ambulante da Benetton.

Podia argumentar até que foi por ela ter sido namorada do meu primo. Sim, esta é boa, da próxima argumento com esta! Não ao mesmo tempo, atenção, que essa ideia de "cruzar espadas" faz-me espécie, mas mesmo assim dava um arzinho de incesto. Nunca cheguei foi a perceber se isso me excitava ou não. Acho que são os malefícios de anos e anos a consumir tudo o que de mais depravado e inenarrável a internet tem para oferecer, acabamos por ficar dessensibilizados para a vida real.

Podia ainda acrescentar ao rol o facto de o filme preferido dela ser Um Porquinho Chamado Babe. A sério, nem sequer estou a brincar, um filme com animais que falam - e que não era de animação! - era o preferido dela. Se fosse numa época em que os únicos filmes disponíveis eram os das entradas e saídas dos empregados da fábrica Lumière ainda vá, mas não, em pleno século XXI era um porco falante que a cativava. Enfim, diga-se o que se disser, pelo menos era coerente nos gostos.

Mas não foi nada disso.

Sabem aqueles momentos raros de clareza que às vezes temos? Não estou a falar de epifanias avulsas; estou a falar do tipo de coisa de que os monges budistas octagenários são feitos. Como naquele instante imediatamente antes de adormecer em que temos a perfeita noção do nosso ser e a certeza de que Deus existe, mesmo que sejamos agnósticos ou ateus convictos, porque, foda-se!, somos cosmicamente demasiado importantes para não passarmos de mais que simples e insignificantes produtos descartáveis à base de carbono com prazo de validade. Esse tipo de momento, estão a ver? Iá, foi isso.

Só que o meu momento foi ao vê-la a rabiscar suásticas no canto da página da TV Guia enquanto via o Preço Certo. Foi aí, nesse instante, que percebi que tinha acabado. Aliás, nunca tinha começado, não na verdade, porque eu, eu propriamente dito, nunca lá tinha estado. Foi como se tivesse tomado o comprimido vermelho. Mas para ser honesto, até hoje, não sei qual das duas coisas me despertou, se as suásticas se o facto de ela ver o Preço Certo.