2010-08-29

Desta vez é a sério



2010-08-26

À parte as mães ninguém pode afirmar de viva voz que deixa cá algo

Calma. Eu sei o que vos vai na alma. Estão a olhar em volta e a pensar que vos falta algo. Não conseguem dizer o quê ao certo, mas falta. Sentem-no. Assim como quando sentem que a vida vos está a passar ao lado. Como naquele dia em que, como um soco no estômago que vem do nada, perceberam que já não eram adolescentes e que nunca - e quando digo nunca é mesmo nunca, como em "jamais em tempo algum" - realizariam os vossos sonhos e que o máximo a que poderiam ambicionar era a mediocridade de uma existência sem nada de excepcional ou assinalável, e que não passavam de uma mera e insignificante engrenagem numa máquina que nunca pára. Uma máquina que tritura - não! - que oblitera por completo todas as almas que um dia murmuraram a frase "tenho tempo..." Eu sei, achavam que eram diferentes, que eram especiais, que eram... mais, e que Alguém tinha um plano para vocês. Mas não são, não têm, e a percepção de que são vulgares (e) mortais arrebatou-vos para sempre aquele sentimento de superioridade que tinham para com os vossos pais.

Mas não, não é isso. É até bastante simples: o que vos falta aí em casa ou no escritório é um velho. Acertei, não acertei? Claro que acertei.

Felizmente para vocês os velhos são fáceis de encontrar. Procurem uma obra e, espreitando por buracos no seu tapume, encontrarão, por certo, meia dúzia de velhos. Ainda não percebi exactamente qual é o fascínio que os prédios em construção exercem sobre os velhos. Talvez no tempo deles fosse o equivalente aos Legos ou ao Mecano. Talvez seja a possibilidade de uma grua tombar ou de alguém cair de um andaime abaixo. Talvez seja o convívio com os outros velhos - talvez as obras estejam para os velhos como os centros de saúde estão para as velhas. Não tenho a certeza do que falam os velhos que se ajuntam nesses locais, mas aposto que há sempre alguém que diz algo como "no tempo do Salazar é que era", ao que outro decerto responde "ai do empreiteiro que excedesse o orçamento... ia logo parar ao Tarrafal."

Se estão a dizer "não era nada disso que eu estava a pensar, pá", não sejam ingratos. Porque lembrem-se: com um velho ao lado têm sempre alguém para culpar pela flatulência.

2010-08-23

Put on your red shoes

Quando é que a sociedade decidiu tratar o mundo como se fosse um parque de campismo e tornou aceitável andar de chinelos na rua?

E que mania é essa das Havaianas? São CHINELOS, pá! Estão calçados de chinelos de enfiar no dedo e estão armados ao pingarelho? É o mesmo que argumentar que o passe da Vimeca é melhor que o passe da Carris ou que eu dizer que vou jantar sozinho, no escuro, a comer atum directamente da lata, mas gabar-me que o atum é Bom Petisco.

A única boa razão para andar de chinelos é se estiverem num balneário público ou num motim prisional. E a única boa razão para comerem atum sozinhos no escuro é se a vossa namorada vos deixar e, com o desgosto, se esquecerem de pagar a conta da electricidade até finalmente a EDP vos deixar às escuras e à mercê da água fria.

2010-08-13

Holidays in the Sun


Finalmente chegaram. Estou de férias. De partida, a caminho de várias semanas sem fazer absolutamente nada de realmente produtivo. Um autêntico peso-morto para a sociedade. E isso é muito bom. Bom ao ponto de estar para lá do excelente.
Praia. Livros. Música. Jogos. Bebidas. Comida. Deitar tarde. Acordar ainda mais tarde. Respirar lentamente. Lidar com determinados efeitos colaterais. Não perder o início do campeonato de futebol. Mais praia. Mais música. E mais coisinhas, pois coisar é giro e faz bem à alma. É esta a lista mental das minhas férias. Espero não me ter esquecido de nada.
Longe de mim estará o computador. Afastado estarei do processador de texto. Resistirei à tentação de dar um salto até à caixa de emails. Isto porque durante o período de inutilidade não escreverei uma única palavra. É uma promessa: apenas comunicarei através de sons.
Com a minha sorte, e para não me armar em parvo, é quase certo que ficarei afónico, maleita que me obrigará a interagir com o mundo à base da escrita. Mas talvez não. Pode ser que me escape à desgraça e à tragédia.

2010-08-09

It's getting hot in here, so take off all your clothes

Finalista do campeonato de sauna morre

Há tantas coisas erradas com esta notícia que nem sei por onde começar, se pela bizarria de haver um campeonato de sauna - o que é que virá a seguir?, campeonato de duche em poliban? - ou se pelo não menos bizarro facto de alguém ter perdido a vida dessa maneira.

Sim, uma morte é uma tragédia - ou, como diziam os outros, uma morte é uma tragédia, um milhão é uma estatística - mas, ainda que não querendo fazer pouco da santidade da vida humana e todas essas tretas, este caso mais não foi que um exemplo prático de selecção natural.

Sim, é lamentável que um, vamos supor, bom homem, possivelmente pai e marido, tenha sido vítima de um estúpido acidente. Mas a palavra chave aqui é "estúpido". Ele, de livre vontade, e por mero desporto, decidiu meter-se numa sauna a mais de cem graus centígrados. Tenho a certeza que se não tivesse perecido assim teria por certo morrido durante o campeonato de fazer torradas no banho ou durante a feira internacional de malabaristas epilépticos de motosserras em trampolim.

2010-08-02

Eng. Simões

A minha auto-estima nunca foi a mesma desde aquela vez que disse à Shlipa que ela era feia e ela respondeu "quem diz é quem é". "Schlipa?", perguntam vocês interrompendo-me o raciocínio de forma abrupta e, se mo permitem, ainda que não pretendendo de forma alguma insultar o animal vadio que vos educou na rua, bastante mal-educada. Na verdade ela chamava-se Filipa mas como usava aparelho, daqueles antigos que enchiam a boca toda à criançada - e aqui eu vou optar por não fazer piadas com padres, abades, priores ou curas, mas vocês estejam à vontade para as pensar -, falava à shopinha de masha e pronto, pashou... perdão, passou a ser a Shlipa.

Mas dizia eu que a minha auto-estima já não era muita, e agora piorou. Já estava habituado a que me trocassem o nome próprio, mas o apelido, como mesmo agora aconteceu, foi a primeira vez. Aliás, a pessoa em causa conseguiu a proeza de me tratar não só pelo apelido errado mas também por Engenheiro. Até podia compreender se não o tivesse feito na resposta a um e-mail no qual vai a minha assinatura, a bold, onde consta o meu apelido e a ausência de qualquer tipo de título. Não me entendam mal, eu nada tenho contra essa bonita tradição nacional que é a tomada de todo e qualquer título que nos apeteça - eu próprio, entre os 16 e os 17, fui Arquitecto de Coisas -, a questão é que quando um dia decidir voltar a ostentar título quero que seja algo decente, como Rei, Imperador ou, pelo menos, Barão. Príncipe é que não, que isso a mim sugere-me tipos louros, de collants, meio efeminados, e a minha única pretensão a metrossexual foi quando quis ter, efectivamente, um sexo de um metro, mas isso não envolveu cremes nem esfoliantes mas antes um saco de tijolos, uma guita e uma varanda num quarto andar.