Lost in translation
"Esquece-me, boneca.", disse-lhe eu acendendo um cigarro imaginário - porque na minha sala não se pode fumar e porque eu não fumo. "Vai-te embora e esquece-me."
"Seriously, I have no idea what you're talking about. My portuguese is not that good."
"Iésse, det gúd. Ai gúd, iú gúd. Friqui friqui."
Ambos sabíamos que este dia chegaria, o dia em ela voltaria para a Holanda ou Roménia ou Suazilândia ou lá de onde é que vêm as louras altas de olhos verdes de 23 anos.
Ela olhava para o relógio constantemente, fingindo-se desinteressada, os olhos fixos na parede atrás de mim, decerto temendo perder-se numa última loucura se os nossos olhares se cruzassem.
"It was ve... it was... nice working with you.", balbuciou ela, com certeza despindo-me mentalmente, o rubor da sua face disfarçado apenas pela maquiagem desruborizante que certamente tinha aplicado, enquanto fantasiava com os nossos corpos nus em proezas desafiantes das leis da física e da Igreja Católica e degradante para todos os participantes. "Sua porca", pensei eu.
"I just came to say goodbye. I really have to go now."
Não percebi exactamente as suas palavras, mas o seu corpo gritava "toma-me, devora-me", por isso deixei a minha pélvis falar a linguagem internacional do amor.
"You're blocking the door..."
"Ai te adore tú."
Enquanto deslizava para fora da minha sala e da minha vida, levada pelas suas longas pernas - que pernas! duas! - ainda lhe sussurei ao ouvido um último adeus. "Friqui friqui."