Lost in translation
"Esquece-me, boneca.", disse-lhe eu acendendo um cigarro imaginário - porque na minha sala não se pode fumar e porque eu não fumo. "Vai-te embora e esquece-me."
"Seriously, I have no idea what you're talking about. My portuguese is not that good."
"Iésse, det gúd. Ai gúd, iú gúd. Friqui friqui."
Ambos sabíamos que este dia chegaria, o dia em ela voltaria para a Holanda ou Roménia ou Suazilândia ou lá de onde é que vêm as louras altas de olhos verdes de 23 anos.
Ela olhava para o relógio constantemente, fingindo-se desinteressada, os olhos fixos na parede atrás de mim, decerto temendo perder-se numa última loucura se os nossos olhares se cruzassem.
"It was ve... it was... nice working with you.", balbuciou ela, com certeza despindo-me mentalmente, o rubor da sua face disfarçado apenas pela maquiagem desruborizante que certamente tinha aplicado, enquanto fantasiava com os nossos corpos nus em proezas desafiantes das leis da física e da Igreja Católica e degradante para todos os participantes. "Sua porca", pensei eu.
"I just came to say goodbye. I really have to go now."
Não percebi exactamente as suas palavras, mas o seu corpo gritava "toma-me, devora-me", por isso deixei a minha pélvis falar a linguagem internacional do amor.
"You're blocking the door..."
"Ai te adore tú."
Enquanto deslizava para fora da minha sala e da minha vida, levada pelas suas longas pernas - que pernas! duas! - ainda lhe sussurei ao ouvido um último adeus. "Friqui friqui."
25 Comments:
Tu trabalhas nos recursos humanos e cabe-te a ti a dura tarefa de cessar contratos, não é?
Não, mas gostava de trabalhar nos RH, acho que tenho jeito para lidar com pessoas.
ahahahahahahahaha
para quando o livro "contos salazes, para pessoas incapazes"?
Esse seria um título espectacular. Se um dia o utilizar não te pago nada, que eu não sou feito de dinheiro, mas faço uma dedicatória.
Somítico!
Então o A, imbuído do espírito natalício, dá-te uma dica para o nome do teu futuro best-seller e tu pagas-lhe dessa maneira?
diz-lhe das boas, gata!
A, vai-se embora a chorar.
A,
Não caias no jogo manipulador dela. Está só a tentar pôr-nos um contra o outro porque como é ateia... atã... atona?... não quer que ninguém goze o Natal.
Tu é que tens um coração emperderni... empareda... duro que nem um calhau e tratas mal os outros!
O meu coração não é um calhau, é um bloco de gelo. Só precisa de um pouco de calor para se derreter.
E lá dentro, congelado, está um homem das cavernas com a sensibilidade de um mamute.
Calor para dar não tenho, mas tenho um picador... Assim como assim, ainda se aproveitava qualquer coisa desse coração para fazer umas caipirinhas, ou isso.
Isso do homem das cavernas és tu a tentar dizer que tens underwear tigresse?
Os homens das cavernas usavam cuecas tigresse? Olha que os Flintstones não são um documentário.
Gostava de usar-te como literatura de casa de banho, mas infelizmente o pessoal aqui estranharia estar a levar comigo o portátil para o cubículo no WC.
Tentarei fazer o blog perfumado e em dupla folha para não dar tanto nas vistas.
Texto fantástico!
Coitada da rapariga, vai desfeita de volta para a terra dela, nunca mais será a mesma.
Sabes que a única solução para ela, depois de te ter conhecido, é ir para freira, nenhum homem te pode igualar!
O teu inglês é fantástico, muito à algarvio!
"ai te adore tú" está fantástico!
vou passar a usar.
Estiveste a ver o Casablanca?
Ai spique véri naice, je suí tré contã.
Ok, agora já sou eu a exibir-me só para te impressionar.
Sim, estive a ver o Casablanca.
Esse é aquele em que o Bruce Willis mata uns terroristas à base de metralhada, não é?
De cada vez que ouço "friqui-friqui" não consigo evitar gritar mentalmente e com sotaque angolano um "dá-lhe!"
Não me digas que eras tu que andavas no Festival do Sudoeste de 97 a gritar "dá-lhe com a alma, Pacman" durante o concerto dos Da Weasel...
E, se eras, o que é que achaste dos Jestofunk?
O Bruce costuma matar doutra maneira?
O Grilu é angolano?
Fala lá mais um bocado ó AD! estou verdadeiramente impressionada!
Yah, AD! E daqui a nada também me vais dizer que os homens das cavernas não tinham dinossauros como animais de estimação, é?!
A,
desculpa, mas as boas guardo para mim...
AD,
Não era eu, mas estava nesse festival. No preciso momento em que actuaram os Da Weasel estava a tentar tirar um feijão que tinha ficado entalado no aparelho da minha namorada, que tinha acabado de vomitar a feijoada enlatada do jantar.
Aaaah, velhos tempos...!
Ainda lost? e agora é em quê? nos transportes? no ano?
É 2010 pá!
Aqui ainda é 1991, como prova o LP Rush Street do Richard Marx que acabei de comprar.
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