O impacto social da carpa canadiana
Alguém me sabe explicar qual é a utilidade do peixe enquanto animal de estimação? Ele não brinca connosco, não nos guarda a casa, não nos faz companhia, não se lhe pode fazer festas sem ficar com a manga da camisa encharcada, não diz "louro quer bolacha" nem nos podemos montar nele para dar passeios. Não faz nada a não ser nadar de um lado para o outro, coisa que é tão interessante de ver como cotão a acumular no umbigo. Poder-se-ia dizer, portanto, que um peixe como animal de estimação é tão útil como um vendedor de gelados no polo sul.
Na minha opinião alguém que decide que tem de comprar um aquário para se entreter é uma pessoa deveras solitária. Porque convenhamos, uma pessoa que considera que um peixe a vai distrair tem uma vida tão chata, tão fastidiosamente monótona, que nem sequer existem palavras que consigam descrever o tédio em que essa criatura está mergulhada. É o tipo de pessoa que gosta de receber chamadas de tele-marketing só para ter alguém com quem conversar. É o tipo de pessoa que as Testemunhas de Jeová e os Elders evitam por acharem que é chata. É o tipo de pessoa que espeta um garfo no olho só para disfrutar do convívio da sala de emergências do hospital. Enfim, é uma pessoa como eu mas com um peixe.
Mas o que estas pessoas parecem não compreender é que ao adoptarem um desses bicharocos estão apenas a descer mais um degrau da escada social e, consequentemente, a diminuir a probabilidade de contacto com outros seres humanos, para já não falar da quase nula possibilidade de acasalamento. Porque se é verdade que a maioria das meninas se derrete com animais "fofinhos", como cãezinhos, gatinhos e bebés, já o mesmo não se passa com os animais escamosos. Eu pelo menos nunca vi ninguém engatar alguém com um aquário na mão. É que não dá para fazer conversa nenhuma com as garinas, porque ao contrário da filatelia - não há miúda gira que não goste de selos - a peixofilia não tem qualquer sex appeal.
"...e é por isso que a carpa canadiana é estrábica. A propósito: não queres ir lá a casa ver o meu peixe?"
"Ver o teu... peixe?"
"Sim, é um Guelrus Barbatanus Horrendus japonês de água doce. E depois podíamos beber um sumo, comer uma pipoca... e deixávamos o resto da noite por conta do destino."
"Pois, era giro... mas não vai dar. Hoje tenho de... aahhh... preencher os papéis do IRS."
"Ah. Então e se fosse amanh..."
"Também não. Amanhã vou para o Sri Lanka logo de manhãzinha. E já não volto. Nunca mais. Temos pena."
Portanto, a menos que pretendam enveredar pela carreira de monge tibetano devoto à solidão e ao silêncio, pensem duas vezes antes de comprar um peixe.
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