The beautiful people

Eu, que segundo os meus pais estive quase quase a ser baptizado como Quasimodo - e uma vez que nunca o cheguei a ser a possibilidade ainda está em aberto -, sempre supus que as pessoas bem parecidas fossem, por natureza, bem dispostas. Afinal, graças à simetria dos seus rostos e aos seus corpos bem torneados e livres de camadas adiposas, a generalidade da sociedade considera-os mais dignos de amor e atenção que os outros comuns mortais que como eu têm uma aparência semelhante a um acidente rodoviário do IP4. Por isso é com algum espanto que verifico que, julgando pelos modelos fotográficos, ser bonito é, na verdade, uma chatice. Na realidade, tão entediante quanto tentar explicar a um pensionista que se diz "euro" e não "ério", "euró" ou "aéreo", e o perpétuo ar de "been there, done that, got the t-shirt" não mente.

O beco mais bem frequentado da cidade.

Sorrir não é cool.

Imperturbável apesar de ter sido apanhado no túnel de vento da NASA.

Eu tenho um ar idêntico, é verdade, mas porque as agruras da vida me tornaram num autómato desprovido de qualquer emoção humana e incapaz de sequer murmurar uma única palavra que não esteja injectada de bílis. Fosse a minha profissão esparramar-me para fotografias nos intervalos das inalações de coca e seria com certeza uma pessoa bem mais positiva. E tivesse eu rebanhos de jovens senhoras pedindo-me que lhes fertilizasse os ovos e estou certo que, mais tarde ou mais cedo, seria capaz de esboçar um sorriso.