2009-11-30

Smoooooth

Se há coisa de que me posso gabar é de ter uma bonita e suave pele de bebé. E com ela fiz um chapéu.

Dois pontos fecha parêntesis

Não é que eu seja carrancudo, a questão é que, como todas as fotografias em que apareço podem confirmar, a forma como eu sorrio consiste apenas em fechar ligeiramente o olho esquerdo.

2009-11-27

Golden years

Ninguém tratava o Jorge por Jorge. Dependendo do dia era Jójó, Reco ou Cara de Bolacha, e nenhuma destas alcunhas eram do agrado dele. Um dia, num jogo de futebol, o Jorge marcou três golos, curiosamente todos com passes meus, que nem sou bom jogador nem nada - todas as equipas têm um cepo caceteiro e onde jogo eu sou esse gajo - e até estava de sapatos, embora não me lembre porque é que os meus pais me obrigaram a calçar sapatos nesse dia, que eu para deixar os ténis só obrigado e ameaçado, e ele insistia em celebrar comigo apesar de eu não querer porque ele escorria suor e eu não aprecio o contacto físico de Jorges suados. "O Cara de Bolacha marcou outro", gritou o Alex, que era do Casal Ventoso e costumava andar com um ferro enfiado na manga do blusão para quando tivesse de andar à porrada. "Cara de Bolacha é a tua mãe!", volveu, já farto e furioso, o Jorge, que talvez tenha incluído também na frase algo alusório à mãe do Alex exercer uma profissão liberal livre de impostos. Ora, como qualquer um da escola sabia, crescer para o Alex não era boa ideia, mas a Ana Carina estava a ver o jogo e o Jorge gostava dela, embora eu nunca tenha percebido porquê, porque nos mais de trinta anos de vida que tenho ela foi a maior cabra que alguma vez tive o desprazer de conhecer, e portanto ele não podia dar parte de fraco e recuar. "A minha mãe o quê?", indagou o Alex que, para sorte do Jorge, tinha tirado o casaco para jogar à bola. Estático, por medo ou pela Ana Carina, e apercebendo-se que tinha feito asneira e estava em apuros, o Jorge engoliu em seco enquanto o Alex atravessava o campo na sua direcção. Como herdei da minha mãe um espírito apaziguador e conciliatório, e como até me dava bem com o Alex desde que fizemos juntos um trabalho de grupo para Português, embora a parte dele tivesse consistido apenas em sublinhar a palavra "cabrão" no dicionário e pôr uma pastilha elástica no livro de História do Paulo para nos fazer rir - e fez, porque o Paulo não era do nosso grupo e passado uns dias aquilo começou a cheirar tão mal que ele teve de arrancar as folhas - meti-me no meio dos dois e pedi ao Alex para não stressar e não fazer a folha ao Jorge, nem ali nem às seis da tarde à porta da escola. "Ah", disse-me o Jorge depois do jogo a tentar armar-se em forte, "o meu primo é da Juve Leo, e se o gajo me batesse eu mandava-o matar." Eu fiz que sim com a cabeça e fingi que acreditei. A Ana Carina, essa, começou a andar com o Daniel, que era um repetente crónico e tinha aquele ar de sou-muito-cool-porque-sou-burro-e-orgulho-me-disso, e o Jorge nunca chegou a molhar a sopa. Soube uns anos mais tarde que estava numa clínica de desintoxicação na Alemanha a tentar tratar a dependência de heroína que entretanto adquiriu. Acho que a lição a tirar daqui é que as alcunhas são a porta de entrada para o mundo das drogas duras.

We're so pretty, oh so pretty vacant

Tenho feições magistralmente esculpidas dignas de um semi-deus grego? Tenho.
Tenho um corpo que desnudo parece ser todo ele trabalhado em mármore de Carrara? Naturalmente.
Sou dotado de um intelecto superior? Óbvio que sim.
É comigo que as mulheres fantasiam quando ajustam a pressão da água do chuveiro? É.
Sou um ser humano extremamente espectacular? Sou.
Sou mentiroso? Um bocadinho.

E mesmo assim a minha autoconfiança não chega aos pés da da minha colega que ainda agora me disse que eu devo ser o único homem que não repara nela.

2009-11-25

Álbum fotográfico III

Eu? Eu nunca tive Game-Boys nem PSPs nem nada disso. Entretenimento para mim era andar com os meus amigos a correr pelos baldios a atirarmos pedras uns aos outros. Uma vez íamos vazando uma vista ao Carlitos, que teve de andar com uma pala a proteger o olho durante umas semanas. Passou a ser conhecido como o Pirata. "Ó Pirata, dá cá a pata", gritávamos nós - éramos miúdos e passávamos as tardes a levar pedradas na cabeça, não dava para mais.

Por isso não, nunca tive brinquedos a sério. Só os bocados de giz que a minha mãe trazia da escola onde dava aulas.


2009-11-24

Popeye

Ou este senhor teve uma adolescência demasiado solitária...


... ou leva o braço-de-ferro demasiado a sério.

My little pony

O meu primo, do qual me separam seis ou sete anos e dois ou três países, não segue uma linha de raciocínio comum ao resto de nós mortais porque quando Deus tricotou o seu ADN esqueceu-se de incluir o gene responsável por decisões sensatas.

Entre muitas - muitas! - outras peripécias, conta-se a de quando ele comprou um cavalo. Imagino que alguns de vocês estarão agora a dizer "Então e depois? Eu também compro cavalo." Mas eu estou a falar do género de cavalo que se monta, não do que se injecta. Daqueles que relincham e que aparecem desenhados nos Ferraris e num ou outro filme da Cicciolina.

Eu quando vou ao supermercado fico indeciso se devo ou não levar mais um pacote de bolachas mas ele viu um cavalo e disse algo como "Vou levar. Não é preciso embrulhar que não é para oferecer."

É verdade que na altura ele fazia equitação e uma vez que quem pratica futebol compra umas chuteiras e quem faz surf compra uma prancha, então aquilo talvez lhe parecesse o passo mais lógico a dar. Porque, lá está, faltava-lhe o tal gene que lhe desse dois berros e um estalo.

Não me lembro exactamente quantos anos teria ele quando o fez - não sei sequer se é preciso ser maior de idade para comprar um cavalo porque, convenhamos, quantos de nós estão a par dos trâmites legais da aquisição de equinos? -, mas lembro-me que foi com o cartão de crédito do pai. E à pergunta "Onde é que estavas a pensar pô-lo?" ele respondeu candidamente "No jardim."

Os pais tiveram de pagar uma box e um tratador que cuidasse do animal até o conseguirem vender, porque aparentemente, e mesmo tendo recibo, as cavalariças não aceitam devoluções. E assim renunciaram também à oportunidade de ter o jardim mais fértil da vizinhança.

God is in the house

Ir a um restaurante chinês é para mim uma experiência religiosa. É que tal como a Deus eu também peço ao empregado de mesa uma família feliz.

2009-11-23

Publicidade enganosa II

Para evitar acidentes e mal-entendidos mandei tatuar um sinal no abdómen a avisar que cardíacas, grávidas e menores de idade não podem andar.

Giddyup

Não suporto que falem nas minhas costas. Por isso mesmo já avisei o director geral que na próxima reunião não conta comigo para andar com ele às cavalitas.

Apple of Sodom

Sempre desejei estar rodeado de mulheres que me quisessem comer, mas para isso acontecer acho que vou ter de esperar pelo apocalipse zombie.

You've mistaken me for someone who cares

Se errar é humano então começo a desconfiar que esse humano sou eu.

2009-11-19

I'm on my way down, I'd like to take you with me

Ando tão cansado que acabei de passar uns bons cinco minutos com os fones pendurados nas orelhas até me dar conta que tinha a música desligada. Ou isso ou os poucos neurónios que me restam estão todos entretidos com as minhas memórias do "9 Semanas e Meia" e do "Pecados de uma Mulher Casada". Menos aquele que tem assim um olho meio fechado e mais gengiva que dentes e que é sempre o último a ser escolhido para as equipas de futebol. Esse deve estar a brincar com um interruptor ou assim.

Mudam-se os tempos

Eu sou de um tempo mais simples, mais puro.

Eu sou do tempo em que o mais parecido que tínhamos com uma Oreo era quando espremíamos um naco de manteiga entre duas bolachas Maria, telefonar para um amigo implicava dar ao disco do telefone - que fazia crrrt-cat-cat-cat-cat - e o equivalente a um sms era deixar recado com a mãe dele.

Eu sou do tempo em que dar um murro em algo era um método perfeitamente legítimo de reparação. A velha Blaupunkt a preto e branco não funciona? Dá-se-lhe uma marretada de lado e fica como nova. O transístor só apanha ruído branco? Dá-se com ele na mesa meia dúzia de vezes e é como se os Parodiantes de Lisboa estivessem ao nosso lado.

Hoje em dia já não é assim.

Num acesso de fúria dá-se um tabefe ao portátil e fica-se sem o magenta, e qualquer aberração alguma vez pensada torna-se realidade, como a cerveja sem álcool e os hambúrgueres de soja. Pais preocupados protegem as esquinas da mesa para que as suas crianças não abram lá um sobrolho e trancam as portas dos armários para que não bebam o detergente da louça, garantindo assim que toda uma geração de mariquinhas cresça para nos governar no futuro.

Às vezes tenho saudades do meu tempo. E do magenta.

2009-11-17

Dwarf Invasion

Alguma vez deram por vocês a ouvir uma música e a pensar que o que falta à letra são anões? Iá, eu também.

The third testament... kicks ass!!!

Alguma vez deram por vocês no cinema a pensar que o que falta ao filme que estão a ver é o Senhor a aviar rotativos a vampiros? Iá, eu também.

2009-11-16

Dude, where's my car?

Esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a manhã de domingo passado é pura coincidência.

O nosso herói, jovem garboso e a roçar a espectacularidade, acordou com o pi pii pi pii de uma nova mensagem, a sensação de ter levado um pontapé na cabeça e um murro no estômago, e a boca tão seca que nem a costumeira poça de baba tinha na almofada. E, a julgar pela maneira como o tecto do quarto rodava e oscilava, seria até capaz de jurar que estava deitado num colchão d'água instalado em cima de um touro mecânico encarnado pelo espírito do John Wayne.

Segurou o telemóvel a dois centímetros dos olhos semicerrados enquanto tentava focar as letras. "Bom dia! Sempre contamos com a tua presença hoje à tarde?:)" "Dois pontos fecha parêntesis? A sério? Quem é que sorri às... fónix! Às 9h13?!", pensou ele enquanto ponderava sobre a falácia de oferecer os seus préstimos sem pensar duas vezes apenas porque quem lho pede tem grandes olhos castanhos e longas e sedosas pestanas que bate de forma tão descarada como eficaz.

Tentou rebolar para o outro lado sem cair da cama mas, ainda a meio desta delicada manobra, que na altura lhe pareceu apenas ao alcance de ginastas chineses pré-púberes, uma dúvida invadiu o seu espírito: "Terei desligado os faróis?" Levantou-se num ápice e, após recuperar o equilíbrio, calçou as pantufas e deslocou-se até à porta do prédio para verificar. "Então mas... onde é que está o carro?! Terei deixado as portas abertas? Espera... como é que eu vim para casa?"

Coçou a cabeça primeiro e a nádega direita depois, encolheu os ombros e decidiu ir comer qualquer coisa antes de se preocupar com isso - afinal de contas o carro não era exactamente aquilo que alguém se gabaria de roubar. Ainda pensou ir bater à porta da vizinha do 2º B, aquela que conduz um jipe demasiado grande para ela e lhe sorri com o aparelho todo sempre que ele lhe segura a porta - não por cavalheirismo, que esse é um conceito que lhe é tão estranho como lavar os dentes ao fim de semana, mas porque aproveita essas ocasiões para lhe tirar fotografias ao rabo com o telemóvel - mas achou que aparecer de calças de pijama velhas e gastas e t-shirt do Mighty Mouse a cravar uma tosta mista talvez a levasse a chamar a polícia. E ele não estava com cabeça para histerismos e bastonadas.

O carro, esse, como mais tarde viria a descobrir, estava seguro e bem estacionado à porta de onde tinha jantado na noite anterior. Ainda disse várias vezes as palvras "Kitchi, Kitchi, vem mi buscá amigão" para o mostrador do relógio, mas não resultou. Enfim, nada como uma caminhada para abrir o apetite.

2009-11-13

Frangamente

Uma boa ideia era se em vez de aproveitarem a engenharia genética para fazer bebés arianos a usassem antes para fazerem frangos de quatro pernas - e como me tratam por senhor doutor quando vou ao banco acho que tenho credibilidade para mandar bitaites científicos. A sério, pensem nisso. Assim reduzia-se para metade as discussões sobre quem é que come as pernas do frango assado.

Só para que não restem dúvidas, sou eu.

2009-11-12

Bicycle bicycle, you are my bicycle

"Tens que ser sempre tão negativo?", perguntou a minha colega.
"Sim, faz parte do meu charme.", respondi eu.

Tudo porque me queria convencer que andar de bicicleta é saudável e eu alvitrei os nomes do Joaquim Agostinho e da minha prima Andreia, que um dia chocou de frente com uma carrinha de caixa aberta, daquelas que transportam caixotes de verdura, e ficou toda escangalhada. A minha prima, não a carrinha, que essa ficou impecável, fora uma amolgadela na porta do pendura, mas a gente acha que já lá estava e o homem é que quer aldrabar o seguro - como é que a minha prima, que ficou a morder o pára-choques, lhe metia a porta para dentro? E ela era bem gira, assim tipo top model, até cheguei a pensar em fazer-me ao piso, que nós somos primos mas afastados, para aí em terceiro ou quarto grau, e se um dia procriássemos a criança saía mais ou menos saudável. A respirar pela boca e a dar passou-bens com a mão muito mole e toda suada, na pior das hipóteses. Acho que valia a pena o risco.

Mas pronto, parece que vai haver um evento qualquer patrocinado por uma empresa qualquer em que se anda de bicicleta num sítio qualquer e cujo dinheiro reverte em favor de uma causa qualquer - não prestei atenção aos detalhes porque a conversa não era sobre o Grand Theft Auto IV nem havia slides da Sabrina Salerno aos pulos num trampolim - e querem convencer-me a participar com argumentos tão patetas como esse.

Se houver almoço de convívio - mas uma coisa em termos, tipo churrasco com pão e queijo do bom e tudo bem regado, não é cá sandes de fiambre e Spur Cola - vou lá ter de táxi.

No good deed goes unpunished

Estava agora mesmo a comer a fatia de bolo que a Susana me trouxe quando a Vera passou por mim e perguntou se eu lhe dava uma dentadinha. E eu dei. E agora estou outra vez em apuros com os Recursos Humanos apesar de quase nem ter feito sangue nem nada.

2009-11-11

É o bicho

Nunca compreendi o fascínio do Iran Costa pelo Jackie, mas a verdade é que ele estava sempre a tentar segurar o Chan, agarrar o Chan, segurar o Chan, Chan, Chan, Chan, Chan.

2009-11-10

Live fast, die young

Num dos exercícios da formação em que estive esta manhã tive de enumerar, a partir de uma lista, alguns dos valores que acho importantes para a minha vida pessoal e profissional. Entre esses valores estavam, e passo a citar, "fama" e "viver rápido", que eu prontamente assinalei porque apesar de até hoje nunca ter encontrado maneira de verbalizar o porquê da minha escolha pela informática, a verdade é que eu sempre me vi como o James Dean dos PCs ou o River Phoenix das disquetes de cinco e um quarto. De entre os outros valores disponíveis escolhi ainda o "prazer", que, obviamente, decorre das inevitáveis drogas e orgias consequentes da fama e vida on the fast lane de quem dedica boa parte do seu tempo a comer sandes de paio em frente a um monitor numa sala sem janelas iluminada a luz fluorescente. A "sofisticação" é também deveras importante para mim, como é patente pelo meu sempre impecável smoking que diariamente passeio pelos corredores, de vermute na mão, piscando o olho às meninas que comigo se cruzam e a quem lanço um ocasional "Hello, Mish Moneypenny". Fui, no entanto, incapaz de seleccionar o quinto valor pretendido, pois "aspirar cocaína do peito de bailarinas eróticas" não fazia parte da lista. Seria redundante, eu sei, mas assim como assim também lá estavam "ganho financeiro", "dinheiro" e "riqueza". Fica para a próxima.

2009-11-09

There stands some kind of man, I roared, and it did, in the reflection

Se fosse o agente do Jackie Chan dizia-lhe para mudar o nome para Jackie Chan-Chan-Chan-Chaaaaannn. Tinha mais impacto.

2009-11-06

Highway to hell

Não estou habituado a conduzir carrinhas de nove lugares, por isso não tenho a certeza se aqueles tuntuns sucessivos eram lombas, cães ou peões.

Hate the game, not the player

Recordo com nostalgia o dia em que pus o meu primo de 9 anos a chorar durante um jogo de Monopólio, trocando as suas ruas e avenidas pelas minhas companhias da água e do gás e mais algum dinheiro que ele perdeu na sua totalidade em duas voltas ao tabuleiro. Depois ri-me dele apontando as gordas lágrimas que lhe escorriam pela face ruborizada e o lábio tremelicante, e imitando a sua voz esganiçada, ao mesmo tempo que fazia uma careta trocista, gritando "buhuhu, não jogo mais" enquanto ele saía da mesa a correr em direcção ao quarto, onde teria chegado sem um único arranhão se eu não lhe tivesse passado uma rasteira que o fez aterrar de testa no soalho com um estrondoso bonk. Sim, recordo com nostalgia domingo passado.

Who Wants To Live Forever?

Esta semana foi a minha vez de fazer uma visita ao centro de saúde, edifício pelo qual tenho tanto apreço e que agora parece estar a tornar-se na minha segunda casa. Já estive mais longe de tratar enfermeiras por tu, das senhoras da limpeza colocarem-me a par do desempenho escolar dos filhos e dos seguranças cumprimentarem-me com um sentido high five.

Mas, naturalmente, hoje não tornarei a referir o efeito que o local em questão tem sobre a minha pessoa, com cada minuto lá passado a brindar-me com sintomas de tudo quanto é doença. Não. O tema de hoje tem a ver com música. Música que pairava no ar da sala de espera do hospital.

Passo a descrever a situação...

Eu, desconfortavelmente sentadinho, olhando ligeiramente em pânico para os enfermos que me rodeavam. Cerca de vinte enfermos, desconfortavelmente sentadinhos, olhando ligeiramente em pânico uns para os outros. Em comum, o facto de todos necessitarmos de ouvir: “Você está óptimo! Vá lá para casa e volte apenas daqui a 137 anos. Saudinha de ferro essa. Ferro do bom, daquele que resiste à erosão provocada pelo tempo.”

Necessitávamos mas não ouvimos. Em contrapartida, ouvimos música, música que saía das colunas estrategicamente colocadas na sala de espera. Primeiro vieram uns temas de Rui Veloso. Depois um pouco da Mariza. Seguiram-se os Madredeus e o Rodrigo Leão. Completamente normal, apesar de não fazerem parte da minha lista de preferências e até terem o condão de me provocarem pequeninos vómitos. Nada que não aguente.

Mas, de súbito, os meus ouvidos começaram a captar algo muito estranho. Um som que não me era nada estranho. Mesmo nada. Primeiro não queria acreditar. Depois acreditei mesmo.

“Who Wants to Live Forever?”, dos Queen. Isso. “Quem é que Quer Viver Para Sempre?” passava em todo o seu esplendor na sala de espera do hospital. A composição perfeita para animar as hostes das dezenas de infelizes com resultados de análises na mão. Em cheio!

Naturalmente que a minha imaginação entrou em espiral de desgraça iminente. Já me estava a ver no consultório e... “Oh homem! Estas análises... meu Deus, nunca vi nada assim e olhe que pela minhas mãos já passaram casos bem horríveis... a única coisa que lhe posso dizer é... quem é que quer viver para sempre, não é?! Enfim...”

Felizmente que fui chamado logo de seguida. Penso que mais uns minutos e das colunas teria saído a “Marcha Fúnebre”, de Chopin. Ou o “Requiem”, de Mozart. Ou talvez mesmo um spot publicitário a uma agência funerária. Irra!

2009-11-05

Is that a nunchuck in your pocket?

Sejam bem claros quando pedirem um filme pelo nome ao imberbe por trás do balcão do clube de vídeo. Soletrem se for preciso. Eu pedi o "Ninja Americano" e só tarde demais percebi que o que me deram foi um clássico de acção do cinema porno gay do final dos anos 80 de nome "Ninja Amaricado".

2009-11-04

Mais uma ficha, mais uma voltinha

Aprecio jogar às copas. Na faculdade passava horas nisto com os meus amigos. Era porreiro. No meu emprego franzem o nariz a estas coisas, dizem que é um local de trabalho, que não é apropriado e outras coisas que envolvem as palavras "processo" e "disciplinar". Mas mesmo assim tento jogar sempre que posso, normalmente quando vou tomar café. Fico sentado ao canto da sala a gritar às colegas que vão passando "B", "A", "Duplo D" e assim, mas elas raramente colaboram e eu fico sempre sem saber se acertei ou não.

2009-11-03

The naked truth

Deixem-me ser honesto por um momento: eu não sou exactamente um vencedor no que à compilação de genes diz respeito. Pelo contrário, sou uma espécie de recycle bin genético e, como tal, uma pessoa doente com uma esperança de vida deveras limitada. Cada um joga com as cartas que a vida lhe deu e as minhas são só duques, ternos e uma da Caixa da Comunidade que diz que tenho de pagar cem escudos de imposto.

Ora acontece que me chegou à atenção que a observação de seios é benéfica e pode até ajudar a prolongar a vida dos homens. E reparem que não sou eu que o digo, são pessoas respeitáveis, provavelmente de óculos, envergando batas brancas e carregando estetoscópios, blocos e uma daquelas coisas que parecem espelhos retrovisores na cabeça.

Venho por isso apelar à consciência de qualquer eventual leitora que encontre em si a bondade e a caridade, qualidades inerentes a esse fantástico ser que é o feminino, para que me ajude neste momento difícil.

Obrigado.

Depeche Moda

Este fim de semana percebi, finalmente, que o meu insucesso junto das fêmeas não se deve, como já foi alvitrado por uma ou doze pessoas, à minha rudeza, vulgaridade, eczema, mau odor corporal e bucal, ou à espuma que se forma aos cantos da boca quando digo mais de três frases, mas antes ao facto de não ser fashion e cool.

Às gargalhadas que acompanhavam o meu apontar de jovens envergando t-shirts, chinelos e cachecóis, como quem vai ali num instante dar um banano ao urso polar e já vem aqui para a esplanada beber uma Coca-Cola fresquinha, foram contrapostos argumentos como "é moda, pá, não percebes nada" e "cala-te que eles são mais e maiores que nós".

"Eureka!", exclamei eu - e que é "Fónix!" em grego -, ao perceber que eram as minhas t-shirts dos Milli Vanilli, já amarelas debaixo dos braços, os meus ténis Rhodes e as minhas calças de ganga Old Chap que estavam na base dos meus desaires amorosos.

E, se este ano já está perdido, o melhor que posso fazer é precaver o próximo, por isso já comprei um blusão Duffy, umas bermudas estampadas e umas galochas, look que, pela lógica, será o mais in na primavera/verão 2010.