Verão Azul

O que me surpreende é que as autoridades competentes nunca tenham questionado o Chanquete, um anafado e entradote pescador, quanto ao seu hábito de receber e conviver em privado com petizes e adolescentes, dos quais o roliço Piraña se afigura como a vítima mais óbvia dada a facilidade de o aliciar com tão pouco como um saquinho de pevides ou de pistachios.

Cavalos d'água gulosos

Um dia hei-de ir ao AKI comprar tábuas, cabos e parafernália afim. Depois passo pelo Jumbo e compro uma dúzia de bolas de praia. A seguir reúno três amigos, vamos ao Jardim Zoológico, prendemos os hipopótamos por um intrincado sistema de cabos e roldanas, lançamos as bolas de praia para o meio deles e jogaremos o maior e mais espectacular Traga Bolas de sempre.

Roberto Severo

Com uma primeira dinastia composta por Afonsos e Sanchos, a verdade é que temos um país conquistado por tipos de sapatinho vela e pulôveres amarelos da Burberry pelos ombros - o que serve para provar que, afinal, os betos são lixados para a porrada.

A E I O Uicabom

Se tivesse o corpo de letra da Verdana passava os dias em casa em frente ao espelho a acariciar o abecedário.

O senhor sem anéis

Tenho um colega, a quem nós carinhosamente chamamos de Dr. Valium - e por "nós" refiro-me a mim -, que insiste em começar os dias comentando notícias que leu no jornal. E ele nem sequer lê jornais interessantes, como o Crime, o Incrível ou A Bola, porque se ele quisesse falar do casal que foi esventrado em Cruz de Pau, da alface alienígena encontrada em Almeirim ou do novo defesa central búlgaro do União da Madeira, tudo bem, agora vir com impactos da gripe suína no turismo nacional e suas repercussões na economia do país isso é que não, que para ser adulto já me basta ter adolescentes a tratar-me por "senhor".

Se qualquer coisa não qualquer coisa

A julgar pelas olheiras do gajo que se senta na minha cadeira, não deve haver um único site de conteúdo pornográfico que não tenha tido tráfego na noite passada.

Se voar não beba

A julgar pelos olhos do velho da segurança que está cá quando eu chego de manhã, se o Conde Drácula, numa destas madrugadas, tem a infelicidade de o atacar, depois de se tranformar em morcego vai a bater com o focinho de poste de electricidade em poste de electricidade, a cantar "A Mulher Gorda" e a urinar-se todo pelo caminho até chegar à cripta.

Life's a bitch and then you die

Quando achamos que as coisas correm bem e nos recostamos na cadeira, colocando os pés em cima da mesa, mordiscando um Cohiba imaginário e pensando "ah, afinal nem tudo é mau", a vida enfia a cabeça pela porta e diz-nos "Here's Johnny!" Depois, com a subtileza de um rotativo do Steven Seagal ou de um urso que vê em nós um misto de parceiro amoroso e de delicioso salmão, encarrega-se de nos pôr no nosso lugar, fazendo de nós a sua cabra como se de um episódio do Oz se tratasse, tudo isto enquanto se ri de forma malevolente e nos chama "tótó".

From Russia with love

Enviei a imagem acima, que encontrei no site do Record, à minha amiga russa a perguntar-lhe se eu, sem saber, estava a dever dinheiro a alguém ou se ela fazia parte do free trial. Ainda não recebi resposta mas estou à espera de algo entre um "parvo" e uma lição grátis de Sambo - cuja única relação com samba é a sensualidade de movimentos enquanto se parte os queixos a alguém.

Tip me over and pour me out

Tenho uma colega tão embevecida pelo estagiário uruguaio que por aqui anda que quando estão parados no corredor a conversar temos de pedir emprestado às senhoras da limpeza, e colocar ao lado dela, um daqueles sinais a dizer "Cuidado! Piso molhado."

When I get all steamed up hear me shout

No liceu tive uma colega com dupla personalidade e quando os outros olhavam para ela e dizam "fónix, ganda par" pensava que era a isso que se referiam.

Here is my handle, here is my spout

O meu sex appeal é tanto ou tão pouco que as minhas namoradas nem quando andam à chuva se molham.

I'm a little tea pot, short and stout

Tenho um colega com mais de dois metros de altura, o que é fixe porque quando começa a chover ele avisa-me e eu tenho tempo de chegar a casa antes de me molhar.

¿Donde esta la zapateria?

Robert Frost diz-nos que não existe um caminho certo e um caminho errado mas apenas aquele que tomamos e o outro. Claramente Robert Frost nunca andou duas horas em círculos a tentar sair de Alcorcón, apenas para ir dar sempre à mesma maldita praça.

Destroce

Por muito que tentasse e que o seu instrutor de condução insistisse, o jovem Augusto Domingues nunca foi capaz de estacionar em paralelo. Ao solo.

Sempre alerta

Agora sim, estou preparado. Venham elas, venham todas! Quantas reuniões são?

Way out in the water, see it swimming

Às vezes sonho acordado:

- Vamos jogar à forca?
- Err... euh... à forca? Agora?
- Sim, vai ser giro. Fortalecer o espírito de equipa e isso.
- Ok...
- Fixe, não saias daqui, vou só ao carro buscar a corda.

Under pressure

Há sempre quem não consiga trabalhar sob pressão. Os que têm esgotamentos, pegam numa carabina e começam a abater colegas só por atenderem o telefone dizendo "tou chim" ou por levarem o último Kit-Kat da máquina - em sua defesa impõe-se dizer que os Kit-Kats são deliciosos e que a última vez que "tou chim" teve piada o programa mais visto da televisão nacional era a novela Sassaricando. E depois há aqueles como eu, que gostam é de ter uma dúzia de pessoas histéricas a dizer que algo é urgente e de repetir as mesmas coisas a cada uma delas num tom calmo e reconfortante enquanto seguro a sua tremelicante mão na minha e lhes dou canjinha dizendo "olha o aviãozinho" e "vai ficar tudo bem, confia em mim, vamos ultrapassar isto e ficar mais fortes que nunca". Como hoje, por exemplo:

- Mas que grande desgraça que se abateu sobre nós.
- Eu sei.
- Precisamos arranjar uma solução urgentemente.
- Já estou a trabalhar nisso.
- É que é urgente.
- Ah, não me tinha apercebido. Nesse caso, e ao invés do resto do tempo, vou aplicar-me. Ia dormir uma sesta primeiro mas se é urgente...
- Mesmo muito urgente.
- Eh lá... E dava para me ligarem três vezes por minuto a perguntar se já está? É que isso ia acelerar o processo e ajudar-me imenso.
- Claro, pá.
- Não me chames pá, pá.
- Desculpa, pá.
- E conseguem vir à minha sala de cinco em cinco minutos perguntar "como é que isso está?"
- Arranjamos alguém...
- Óptimo.
- ... mas podias vestir as calças?
- Eu trabalho melhor assim.

HÃ?

Tenho um colega que não só fala devagar como também fala baixo. É o equivalente humano àquelas passagens de nível sem guarda nas quais tínhamos de esperar que os comboios de mercadorias lentos e com um incontável número de vagões acabassem de passar - mas se os tais comboios tivessem o silent mode do Raio Azul.

Aliás, ele fala tão baixo que quando temos uma conversa tenho de encostar o meu ouvido à sua boca, como se de namorados nos tratássemos e me estivesse a sussurrar doces nadas. E já há muito tempo que troquei o educado "Diz?" por um sonoro e abrutalhado "HÃ?" no fim de cada frase por ele proferida.

- m m amaciar m m m m m m m m m m milhafre.
- HÃ?!
- m m m m m m fractura m m m m m m enxofre.
- HÃ?!
- Tens de assinar a factura da compra do cofre.
- Ah...

The importance of not being seen

Apesar de nos conhecermos há quase um ano a verdade é que nunca tínhamos trocado mais de meia-dúzia de palavras, nenhuma delas particularmente interessante. Isto até há duas semanas atrás quando, a sós e num momento de descontracção, falámos um pouco de nós e das nossas vidas, da infância até ao presente. Partilhou até que estava separada do marido há quase dez meses e que estava a passar por um processo de divórcio litigioso complicado, agravado pela luta pela custódia do filho ainda pequeno e pelo facto dele a ter ameaçado que se soubesse que ela andava com outro a matava. E ao outro. Um tipo porreiro, portanto. Conversámos mais um pouco e, no fim, diz-me que "devíamos ir tomar um copo um dia destes." Poucas vezes fui confrontado com a escolha entre um gin tónico e a minha própria vida. Não que o convite fosse de natureza romântica, mas não me parece que o indivíduo em causa, se nos visse, perguntasse se ali estávamos como amigos antes de me desfazer o crânio com um pé de cabra. E eu sinto-me bastante apegado ao meu crânio.

Orgãonização criminosa

Detido em Paio Pires, pela Interpol, um perigoso gang responsável pelo tráfico de orgãos à escala global.

Da esquerda para a direita:
Fats Wallace, Smiley Pete, Beardy McBeard, Cara de Bolacha e The Dude.

Smells Like Children

Estou convencido que se em vez de Colónia os inventores da água cheirosa estivessem em Kirchheimbolanden ou Neckarbischofsheim o produto nunca teria tido o sucesso que teve. E eu não teria nada para oferecer à minha avó.

Space Oddity

Aparentemente já temos um astronauta português. Pelo menos ontem, durante o Liechtenstein - Portugal, ouvi o Carlos Queirós gritar "olha o Simão no espaço, olha o Simão no espaço".

I have to see a man about a horse

Ninguém supera a espectacularidade do meu timing de passagem à porta de gabinetes alheios: não obstante o meu passo estugado ainda consegui ouvir uma senhora dizer a outra "vou mijar". E ainda bem, porque, hoje, o que eu precisava mesmo era da imagem mental de uma colega de meia-idade sentada no bacio.

Capuccino vermelho

Não me queiram convencer que o café da máquina nova é melhor porque não é. É exactamente igual, talvez, não sei, e isto sou eu a especular, porque a marca é a mesma. "Ah, mas esta até tem mais dois botões que a outra, tem capuccino e tudo." Epá, não, não tem. Por duas razões: em primeiro porque apesar dos botões lá estarem, é um facto, a luzinha vermelha por cima de empty está sempre acesa quando lá vou e, em segundo, porque lá por deitar um bocado de espuma em cima do café isso não faz dele um capuccino da mesma forma que eu dar puns no banho não me faz dono de um jacuzzi.

De enfado e gravata

Tal é o meu enfado que, não tarda nada, está aqui a enMariza para o cantar.

Wunderbar

Primeiro pensei que fosse fome, por isso comi um pão com chouriço daqueles quentinhos, acabados de fazer, mas a única coisa que consegui foi ficar embuchado. "Bom, se não é fome devem ser gases", pensei eu. Mas não. Quer dizer, sim, mas isso foi por causa do café misturado com o pão com chouriço. Finalmente cheguei à única conclusão possível: estava deprimido. Mas porquê? Seria devido a ter perdido o cartão de débito e o banco ter demorado um mês a dar-me um novo? Ou por o namorado nadador-salvador daquela estagiária alemã me ter dito que se não parasse de a assediar e de lhe ir espreitar à janela do quarto durante a noite e de lhe deixar bilhetinhos a dizer "ich bin ein wunderbar sexy time friqui friqui" me partia a cara toda?

Não, também não era isso.

Depois percebi que só me sentia assim quando aquele tipo do corte de cabelo à futebolista falava. Aquele, que diz "'tou que nem posso" frase sim, frase não, se senta nas esquinas das mesas e mastiga pastilha elástica de boca aberta. Por isso, em vez de um anti-depressivo, receitei a mim mesmo uma tábua com um prego para ser administrada duas a três vezes por dia. Ao tipo do corte de cabelo à futebolista.

I wanna be sedated

Segundo me acabaram de informar nos Recursos Humanos, "porque não me apetece" não é justificação para não vir trabalhar e, naquilo que me parece ser uma intransigência quase fascista, nem "mas é que não me apetece mesmo, pá".

Happy Meal: Origins

Teoria das improbabilidades

Tenho três computadores na minha mesa e nenhum deles tem pornografia. Estou certo que se trata de um recorde qualquer.

To forgive is overrated

"Parecia-me quase pecado que a sua pele suave tocasse a minha, áspera da barba por fazer e suada do calor que se sentia naquela noite de Junho. E no entanto ali estávamos, sós por entre um sem número de corpos adormecidos que se espalhavam por sofás e camas improvisadas, ela dormindo de mão pousada na minha face, os nossos narizes tocando-se, os lábios a meros milímetros que me pareciam anos luz de distância, e eu acordado saboreando cada segundo, o braço esquerdo dormente, o direito envolvendo-a, a mão repousando nas suas costas acompanhando o bater do coração como se dele dependesse o meu. Não o sabia na altura mas foi a primeira vez que amei."

"Não compreendo..."

"Na manhã seguinte eu sabia que nada do que pudesse alguma vez acontecer entre nós superaria o que senti naquela noite. Despedimo-nos com promessas que nunca cumpriríamos e um olhar que me invade os sonhos até hoje."

"Isso não justifica..."

"Desde então é como se vivesse imerso num imenso nevoeiro, num turpor que não consigo afastar e que me tolda o discernimento, e é por isso, senhor agente, que nunca mais fui capaz de ter documentos em ordem."

"Pois, mas isso não faz sentido. E a verdade é que a sua viatura já devia ter ido à inspecção no mês passado, não tem o dístico do seguro visível e, francamente, o veículo está muito porco e, como tal, vai incorrer em sanção pecuniária."

"E se eu lhe disser que tenho pé-chato?"

Useful idiot

"Agora havia um terramoto e eu salvava muitos gatinhos e cãezinhos e bebés e idosos e depois morria a dizer «deixem-me, salvem-se vocês» e toda a gente ia chorar muito e vocês iam arrepender-se de me pôr de castigo e de me obrigar a fazer os trabalhos de casa e a comer a sopa porque eu era um herói e vocês são maus para mim", era o que eu dizia quando era miúdo e me sentia o ser mais injustiçado à face do planeta.

Não resultava nessa altura e não resultou há meia hora atrás quando me disseram que tinha de participar em mais três formações que não me vão ser úteis em absolutamente nada até ao fim do mês.

Ao contrário do meu colega postegueiro...

Uma semana. Uma semana de férias. Estou há uma semana de férias e estou em pleno estado de enorme idiotice, estado esse que me leva a sorrir 24 horas por dia. Estilo imbecil alegre. Chego a ter algum nojo de mim próprio, quando me olho ao espelho pela manhã, mas a realidade é que não há nada a fazer.
Corto um dedo e sorrio. Tropeço, vou de cara ao chão e sorrio. Olho para um episódio de “Morangos com Açúcar” e sorrio. Ouço uma músicas das Just Girls e sorrio. Olho para o cabelo do Tony Carreira e sorrio. Não é normal.
Para além de sorrir, não me zango com nada e com ninguém. Transformei-me num anjo sorridente. Sou a paz em pessoa. Amigo das couvinhas, cebolinhas, coentrinhos e tudo quanto é erva aromática. Também sou amigo das lagartinhas e das pequenas osgas. Sereno e bom companheiro de todos os exemplares da vida animal. Uma brisa de tranquilidade, portanto.
Também não me zango, quando saio à rua e a cadela do vizinho está a olhar fixamente para mim, dando a sensação que está à espera do momento certo para saltar na direcção da minha jugular. E se isso acabar por acontecer, será certo que sangue irá esguichar da minha garganta enquanto sorrio e faço festinhas ao animal. Sem me zangar. Nada. E algo me diz que também lhe darei beijinhos. Dos sentidos.
É o efeito que tem em mim as férias. E gosto. Muito. A sorrir.

Interacção típica diária

1. Argumentar

2. Explicar

3. Ide praticar o amor com um porco espinho

Fuckity McFuck Fuck

Se uma dessas marcas de prestígio que satisfazem as necessidades cosméticas de pessoas bem parecidas conseguisse destilar e engarrafar aquilo que vem fermentando dentro de mim nas últimas 15 horas comercializá-lo-ia, por certo, sob o nome de Eau de Fuck You ®.

Finding out true love is blind

Se o amor é cego então alguém que lhe arranje um cão-guia, senão não vamos lá. Já passa da uma da tarde e a Heidi Klum não só não chega como continua a emprenhar de um gajo chamado Foca.

Run, Forrest, run

O que eu quero ver é um dos incontáveis desportistas com que me cruzo todas as manhãs correndo no meio da estrada tentar convencer-me de que o jogging é saudável enquanto resvala do meu capot com as pernas dobradas de maneiras que nem a plasticina dobra.

Diz-me com quem andas...

Comentei com um amigo meu que tive a oportunidade de me candidatar a um emprego em Amesterdão mas que acabei por me decidir a não o fazer.

"Isso era fixe.", diz-me ele, "Gastavas era o dinheiro todo no Red Light District. Passadas duas semanas já te conheciam pelo nome."

E esta é a ideia que alguém que me conhece há quase 15 anos tem de mim.

Obrigado

Obrigado ao DJ do bar à porta do qual inadvertidamente passei no sábado à noite por ter achado boa ideia tocar a música Aserejé. Agora que penso nisso, aquela terapia de choques eléctricos para esquecê-la foi dinheiro muito mal gasto da minha parte - até porque não resultou a cem por cento, sempre que alguém no Burger King me pergunta se quero ketchup choro compulsivamente.

A sério, obrigado.

Waterworld

Uns amigos meus foram, este fim de semana, ao Aqualand. Eu não os pude acompanhar não só por motivos profissionais mas também porque da última vez que usei sungazinha em público fui perseguido por uma turba enfurecida de archotes e forquilhas em riste. "Os meus olhos! Os meus olhos! Meu Deus, os meus olhos", e "Aquele indivíduo está a estrafegar um ouriço caixeiro no colo!" foram algumas das frases que se ouviram.

Mas estou a divagar.

Quiseram os deuses que eu não ficasse sem saborear tamanha experiência e como tal, esta manhã, ao chegar à minha sala verifico que tenho o chão e a secretária cheios de água (1). Ao portátil só lhe faltava uma bóia em forma de pato, tão bem que estava boiando numa poça, e eu estou a escrever isto num instante enquanto espero que me tragam o mojito.


1 - Espero que seja apenas água. Com as inimizades que vou fazendo a cada minuto que passa não me surpreendia muito que fosse outro tipo de água, daquela reciclada.
Estou a referir-me a urina.